Dragões #427 Jun 2022 | Page 12

ENTREVISTA

Conte-nos um pouco sobre a sua infância e os primeiros chutos na bola . Lá no Brasil era tradição jogarmos na rua . Desde os meus cinco ou seis anos comecei a brincar com os meus amigos na rua onde morava . Depois apareceu um clube lá do bairro , chamado Nápoles , que era azul e branco e era de um polícia que queria ajudar os jovens sem oportunidade de irem para um clube melhor . Ele organizava muitos torneios para que os miúdos não se perdessem nas drogas e criminalidade . Fui para lá e comecei a jogar ao fim de semana até que fui para outro clube do meu estado . Uma coisa mais séria , com treinos diários , que era o CRB . Fui fazer testes e fui passando até me afirmar nesse clube . Depois surgiu o Corinthians Alagoano , com quem o CRB tinha uma dívida . Para a receber , o Corinthians Alagoano contratou dois ou três jogadores , entre os quais eu próprio .

Em que posição começou por jogar ? Eu era um pouco de tudo , era tipo o jóquer [ risos ]. Comecei como avançado , mas tinha pouco a bola e fui recuando . Passei para médio , depois para lateral e por fim para central . Aí é que gostei mesmo de jogar . Para mim era , e hoje ainda é , uma posição muito desafiante . Porque tinha que ter a iniciativa e , ao mesmo tempo , destruir os ataques dos adversários . Estava muito ligado ao jogo , muito concentrado , e foi isso que me fez gostar tanto . Tanto que o treinador me perguntou onde queria jogar e eu respondi : “ Quero ser central ”.
Como se processou a mudança para Portugal e para o Marítimo ? Quando era juvenil , a equipa principal foi fazer um jogo treino com os juniores , para que o Nelo Vingada e o Carlos Pereira pudessem observar um avançado da equipa principal . Chamaram-me aos juniores para jogar contra os seniores e eles gostaram do que viram , porque foram observar um avançado que eu estava a marcar . Pensei que seria uma oportunidade de me mostrar e de poder ir para a Europa . Obviamente que fiz a vida negra a esse avançado [ risos ]. Quando acabou o treino , o professor Nelo Vingada veio ter comigo e perguntou se eu tinha vontade de ir para o Marítimo . Disse que sim , mas que teriam de falar com os meus pais . Disseram para não me preocupar , que falariam com eles , e assim foi . O Corinthians Alagoano convidou o meu pai e a minha mãe para conhecerem o Nelo Vingada e o presidente . Eles fizeram-lhes a mesma pergunta e os meus pais responderam que sim . Quando fui para a Madeira , eles também contrataram esse tal avançado e um lateral que também chegou a jogar no FC Porto , o Ezequias . Vim com eles para os juniores do Marítimo .
O que faltou para ficar no Sporting naquela préépoca de 2002 / 03 ? Fui lá fruto de um acordo entre os clubes . O Boloni era o treinador , ele queria que eu ficasse no Sporting , mas eles não chegaram a um acordo financeiro com o Marítimo e tive de regressar à Madeira .
A amizade com Cristiano Ronaldo nasceu aí ? Sim , foi aí que o conheci pessoalmente . Mas já tinha conhecido a família dele na Madeira .
No verão de 2004 conheceu outra família , composta por Vítor Baía , Jorge Costa , Pedro
12 REVISTA DRAGÕES JUNHO 2022