Dragões #426 Mai 2022 | Page 47

ANDEBOL

“ É DIFÍCIL PEDIR MELHOR DO QUE ESTAR NESTE CLUBE ”

ENTREVISTA de PEDRO DINIZ
Habituado a tomar decisões sob pressão , Fábio Magalhães é um dos elementos essenciais do 7x6 azul e branco que surgiu por necessidade num jogo com o SKA Minsk e que surpreendeu a Europa , nomeadamente a Alemanha , no duelo de titãs frente ao Magdeburgo , o encontro que funcionou como um “ clique mental ” para um novo FC Porto europeu capaz de se bater com qualquer adversário .

Em Portugal , a pressão de “ ganhar sempre ” está implícita e depois do “ hepta ” o foco virou-se para ganhar a dobrar , sendo esse o objetivo outra vez . Nascido em Lisboa , o lateral esquerdo herdou o portismo do pai e , perante o contexto de sucesso que se vive no Dragão , não tem dúvidas : “ É difícil pedir melhor do que estar neste clube ”.

A EHF distinguiu-o pela terceira melhor assistência da fase de grupos da Champions com aquele passe por detrás das costas para o Daymaro contra o Veszprém . Num jogo de Liga dos Campeões , com imensa pressão e intensidade , como tira esses coelhos da cartola ? Sai um pouco por instinto . Com o treino , tenho de confiar a cem por cento que o Daymaro vai estar ali e que não vai deixar passar o defesa que tem nas costas . É um “ feeling ”, até posso saltar para rematar , mas vejo que o defesa sai com tudo e meto a bola . Felizmente , esse saiu bem e ele marcou , senão não seria distinguido . O que interessa é marcarmos golo , neste caso foi o Daymaro a receber e a bola entrou por trás das costas , isso dá espetáculo e traz adeptos , é bom .
Aparenta ser um jogador muito cerebral , que consegue ver o campo todo e tomar quase sempre a melhor decisão . É um talento natural ou resulta de muito trabalho específico ? Vem muito da formação que tive , dos treinadores que tive . O meu treinador insistia muito nas tomadas de decisão e durante toda a minha carreira fui eu que assumi em situações de superioridade numérica , isso ajudou-me a melhorar ao longo dos anos .
Por essa boa tomada de decisão , é um elemento fulcral no 7x6 que revolucionou o andebol europeu e mundial . Essa tática surgiu por haver um jogador com as suas caraterísticas ou adaptou-se a uma tática que o mister queria implementar ? Todos os jogadores que fazem parte do sistema são importantes , muitas vezes só passo a bola ao Rui Silva e ele faz o resto . Tento ganhar a primeira vantagem , atrair os defesas para criar superioridade . A forma como surgiu este sete contra seis é bastante engraçada , porque o Magnus não era fã , insistia que por ele nem havia esse modo de jogo . No entanto , num jogo contra o SKA Minsk que estava apertado , ele decidiu experimentar , correu bastante bem e fomos melhorando . Na altura , nunca tínhamos treinado aquilo , começámos a jogar por necessidade , porque ele achou que contra o tipo de defesa que eles apresentavam podia dar . A partir daí , fomos trabalhando e melhorando vários aspetos . Acho que o nosso sete contra seis é muito atrativo e dinâmico , tem dado bastantes resultados .
Agora muitas equipas têm utilizado esse sistema como um recurso durante o jogo , mas como reagiam os adversários há um par de anos ? Foi uma novidade . As equipas iam utilizando pontualmente durante dois ou três ataques quando tinham uma desvantagem maior e nós começámos a usar em várias situações de jogo , mesmo estando em vantagem e querendo consolidá-la . Começou a correr bem , as equipas não estavam à espera disso e a prova foi o jogo com o Magdeburgo que fizemos aqui , no Dragão Arena , em que correu tudo muito bem e se viu que eles não estavam preparados para este sistema . Isso foi o que nos deu a vantagem e a vitória na eliminatória , que foi muito importante para chegarmos depois à “ final four ” da Taça EHF . Foi um ano incrível .
Desde que chegou ao FC Porto , a sua média de golos baixou um pouco , mas começou a ser mais decisivo nas assistências . Tendo sido um jogador que chegou a marcar mais de 200 golos por época , esta é a curva natural da sua carreira ou apenas se adapta às necessidades da equipa ? Acho que me adaptei ao que a equipa pedia de mim e ao que precisavam , porque temos sempre bons rematadores , como era o caso do André Gomes e é
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