Dragões #425 Abr 2022 | Page 42

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40 ANOS DE PRESIDÊNCIA
DAS BANCADAS À SALA DA DIREÇÃO
Tudo começou pela base . No princípio , Jorge Nuno Pinto da Costa era apenas uma criança que assistia aos jogos no Campo da Constituição pela mão de um tio , um adolescente que se tornou associado por iniciativa da avó e um jovem adulto que acompanhava o FC Porto para todo o lado em caravanas de portistas que queriam ver com os próprios olhos o que só poderiam imaginar como era através dos relatos da rádio . Foi assim , enquanto crescia como homem e como adepto , que a 6 de maio de 1948 esteve no Estádio do Lima a vibrar com a vitória sobre o Arsenal , que a 28 de maio de 1952 esteve nas Antas a emocionarse com a inauguração do novo estádio , e que a 22 de março de 1959 esteve em Torres Vedras a sofrer com os truques de Calabote e a festejar uma conquista que só viria a repetir-se 19 anos depois . Logo nos primeiros anos de vida adulta , numa altura em que a realidade do FC Porto era fértil em crises diretivas e instabilidade , Jorge Nuno Pinto da Costa começou a colaborar , como vogal , na secção de hóquei em patins , que passaria a liderar em 1962 . Mais tarde , assumiu responsabilidades no hóquei em campo e no boxe , antes de tomar posse como diretor das modalidades amadoras num dos mandatos de Afonso Pinto de Magalhães . Concluída a missão , terá chegado a pensar que estava cumprido e encerrado o objetivo de contribuir para o sucesso do clube de sempre , mas largos dias têm cem anos …
O 25 DE ABRIL NO FUTEBOL PORTUGUÊS
Foi na sequência de uma tertúlia no café Orfeu em que não suportou mais a gabarolice dos participantes boavisteiros – entusiasmados com os sucessos de uma equipa que era treinada por José Maria Pedroto – que Jorge Nuno Pinto da Costa tomou uma das decisões mais importantes da sua própria vida e , sabemos agora , da história do FC Porto : aceitou o convite de Américo de Sá para assumir a direção do futebol no mandato dos órgãos sociais que arrancaria em maio de 1976 . Entre as condições que impôs estavam o regresso de Pedroto ao banco azul e branco e a autonomia do departamento de futebol face às restantes secções do clube . Durante os quatro anos seguintes , Jorge Nuno Pinto da Costa e José Maria Pedroto foram os rostos mais
visíveis da principal transformação do futebol português no pós-25 de abril de 1974 : a viragem a Norte . A ação desta dupla pode ser dividida em três eixos : a reorganização e modernização da estrutura do clube , que passou , por exemplo , pelo aumento da privacidade e das condições de concentração da equipa de futebol através do encerramento do bar público que existia junto à entrada do balneário das Antas ; a construção de um plantel mais forte , que ao longo das quatro épocas implicou contratações como as de Duda , Fonseca , Frasco , Freitas , Jaime Pacheco , Lima Pereira e Sousa ; e o desenvolvimento de um discurso de denúncia e combate ao centralismo crónico do país e aos seus efeitos no futebol . A estratégia deu resultado . Apesar
de todos os obstáculos que foi preciso contornar , em 1977 foi conquistada a Taça de Portugal , que escapava desde 1968 , e em 1978 e 1979 o FC Porto foi bicampeão , quebrando um interregno de 19 anos sem vencer o principal troféu nacional . O tri não foi alcançado por circunstâncias alheias ao mérito desportivo de cada equipa , sublimadas pela Santa
Aliança que uniu adeptos do Benfica e do Sporting contra o cada vez mais temível porta-estandarte do Norte na final da Taça de Portugal de 1980 . Nesse ano , o verão foi quente no FC Porto , e a falta de unidade em relação à postura combativa do clube e à sua estratégia para o futuro ditou as saídas de Jorge Nuno Pinto da Costa , de José Maria Pedroto e de uma parte dos jogadores .
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