Dragões #424 Mar 2022 | Page 77

A ROTA DO DRAGÃO
À esquerda Gradeamento da “ Águas do Porto ”, na Rua Barão Nova Sintra .
Mausoléu que guarda o coração do rei D . Pedro IV . Inaugurado em 1837 , este imponente relicário apresenta no topo , talhadas em granito e sobre a lápide da inscrição , as armas aspadas de D . Pedro , cujo timbre é composto por uma coroa e dragão .
por uma sentinela , o coração teve que aguardar dois anos para que a Câmara do Porto e a Irmandade da Lapa chegassem a um acordo sobre a forma que deveria ter o mausoléu a produzir para o acolher e o local exato da sua implantação . Entretanto os professores da Escola Médico-Cirúrgica do Porto entenderam que , para a sua melhor conservação , o coração deveria ser colocado num recipiente de vidro , material mais estanque e neutro do que a prata . Finalmente , em 1837 , no mesmo ano em que o coração de D . Pedro passou a figurar no centro do escudo da cidade , foi inaugurado um monumental cofre-relicário , localizado numa das paredes laterais da capela-mor , concebido por Costa Lima e produzido com granito fino do Porto , que alguma tradição pretende ter sido retirado de alguns dos parapeitos de baterias utilizados
no Cerco do Porto . O monumento esconde , com efeito , um sarcófago que , não só protege o coração do “ Rei Soldado ”, mas também o salvaguarda da ação corrosiva da luz . Aceder a este cofre só é possível através de cinco chaves que se encontram na posse do presidente da Câmara Municipal e tal abertura só acontece em raras ocasiões , por vezes espaçadas em muitos anos , nomeadamente quando presidentes ou altos dignatários brasileiros visitam a cidade . Exteriormente , o mausoléu apresenta uma extensa inscrição em latim , ladeada por um conjunto de motivos esculpidos no granito com motivos militares , nomeadamente dois feixes lictórios ( grande conjunto de lanças ), estandartes e panejamentos , elmos e vários outros utensílios bélicos , bem assim como dois escudos ovais com coroas
régias e as insígnias de Portugal e do Brasil . Ao centro , sobre todos estes elementos e sobre a inscrição , e também lavradas no granito , observam-se as armas de D . Pedro – um brasão que , sobre o escudo , possui uma coroa com um dragão . O dragão tão associado a D . Pedro e à dinastia dos Bragança . Descrito muitas vezes como fazendo parte do timbre - o elemento heráldico que nos brasões surge no topo , sobre o escudo - da Casa de Bragança , a coroa com o dragão possui , contudo , uma relevância ainda maior e bem mais antiga . De facto , ele não é o timbre desta família , mas sim o das armas nacionais de Portugal . Os Bragança , todavia , usavam-no naturalmente por se tratar da família real . E daí a confusão que hoje por vezes se estabelece . A utilização pelos reis portugueses
do dragão na heráldica nacional , embora possa ter ocorrido de um modo pontual na primeira dinastia ( séculos XII a XIV ), torna-se corrente com a segunda dinastia – a de Avis - e desde o início , já que o rei D . João I ( desde o final do século XIV ), o utilizaria no timbre das armas do reino . O mesmo faria também , por exemplo , D . Manuel I nos inícios do século XVI . Será , contudo , com a dinastia dos Bragança , a partir de 1640 , que a coroa real e o seu dragão passarão a constituir , de um modo sistemático , o timbre das armas de Portugal . A importância simbólica do dragão enquanto símbolo nacional é sublinhada pelo facto da arca tumular do rei D . João IV , responsável pela Restauração da Independência e o fundador desta dinastia , assentar sobre seis dragões .
77 REVISTA DRAGÕES MARÇO 2022