Dragões #424 Mar 2022 | Page 49

ANDEBOL

O andebol está presente na sua vida desde cedo . O que o levou a apaixonar-se pela modalidade a que ainda hoje se dedica todos os dias ? Comecei a jogar andebol com nove anos . Na altura , não conhecia a modalidade , fui conhecendo à medida que fui experimentando . Inicialmente , o que me cativou mais foi o espírito de equipa dentro e fora de campo , as brincadeiras no balneário , o coletivo era o mais interessante , porque se criam amizades e ligações com pessoas que ficam para a vida . À medida que se vai crescendo , o que prende mais é a adrenalina do próprio jogo , de jogar com imenso público e a vontade de ganhar .

Durante a formação no ISMAI , sempre foi um primeira linha bem cotado , tendo sido chamado à seleção nacional desde cedo . O que faz um lateral ou central de 1,86 metros virar ponta ? A primeira vez que joguei a ponta foi no Europeu de Sub-18 , na Croácia . O selecionador Nuno Santos achava que eu tinha qualidade , mas que faltava alguma coisa . Como , apesar de sempre ter sido um atleta alto , era muito magro , sentia algumas dificuldades na primeira linha , então ele incentivou-me a jogar a ponta por ser rápido e ter um bom salto .
“ Se jogar a central , será um jogador mediano , mas se jogar a ponta , pode vir a ser um jogador de topo ”. Esta frase , proferida em 2018 , é do Rui Silva , que já o treinou . Olhando para trás , concorda com ele ? Depois de ter começado a jogar a ponta na seleção , ele veio falar comigo e disseme exatamente isso quando ambos estávamos no ISMAI . Nessa altura , já levava oito ou nove anos a jogar na primeira linha , foi estranho mudar de posição , ainda por cima para uma tão distinta . Se tivesse mudado de lateral para central ou vice-versa , não seria uma mudança tão grande , porque a base é a mesma ,
“ O que senti quando vencemos por um golo o Kiel , na Alemanha , não foi só derrotar o plantel

que jogou contra nós , foi também vencer 10 mil pessoas . Toda a gente está a dizer que não consegues e tu provas a 10 mil pessoas que estão enganadas .”
mas mudando para a ponta tive que alterar rotinas de jogo , é uma experiência nova para qualquer atleta de andebol . Durante alguns anos , tentei assimilar a ideia de que seria ponta , mas ainda demorei dois ou três anos a sentir-me realmente um ponta . Agora estou 100 % confortável a jogar na minha posição e agradeço ao Nuno Santos e ao Rui Silva por me terem aconselhado a mudar .
Como surgiu o convite do FC Porto e quando percebeu que poderia fazer parte do plantel principal ? Não me lembro exatamente de quando surgiu o convite , mas sei que foi quando era juvenil . Vim para os juvenis do FC Porto , para ser treinado pelo professor Graça . Dei esse salto do ISMAI para aqui e depois fiz mais dois anos nos juniores e seniores B . No final desses três anos , senti que o andebol estava a ocupar um grande pedaço do meu tempo e comecei a pô-lo em segundo plano . Voltei ao ISMAI para conseguir praticar de uma forma mais relaxada - chegámos à fase final de juniores nesse ano até - e após essa época fiz parte da equipa sénior deles , procurei evoluir , crescer e não ser tão relaxado . Começou a correr-me bem , fiz algumas coisas interessantes e voltou a surgir essa proposta para começar a treinar mais focado na ponta e percebi que seria algo importante na minha vida .
Durante o percurso , pensou em desistir . O que o prendeu ao andebol ? Pela minha maneira de ser , já não gosto muito de desistir das coisas . Além disso , os meus pais aconselharam-me a esperar , a pensar bem . Foi aí que fui para o ISMAI para ter mais tempo para digerir as coisas . Disse-lhes que iria dar mais um ano , e passado esse tempo mudei a minha perspetiva e os meus objetivos .
A técnica que revela no salto é diferente da que vemos em muitos pontas , parece que para no ar numa posição estática e sempre com o braço bem esticado . Foi trabalhando assim por iniciativa própria ou foi aconselhado por alguém ? Acho que faço isso de forma inconsciente . Nos primeiros anos no FC Porto tive que criar uma rotina , mas essa questão é
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