Dragões #420 Nov 2021 | Page 76

A ROTA DO DRAGÃO
À esquerda Emblema da Associação de Futebol do Porto exposto no interior das suas instalações . Escultura em madeira da primeira metade do século XX .
À direita O velho brasão liberal da cidade , incluindo o dragão , é também o símbolo do Grande Hotel do Porto , inaugurado em 1880 . A receção do hotel é dominada por um belo vitral com tal tema .

E O DRAGÃO RESISTE …

TEXTO : JOEL CLETO FOTOS : SÉRGIO JACQUES
Por decisão da Assembleia Geral , em 26 de outubro de 1922 o FC Porto passava a ostentar , no emblema , as armas da cidade . Em 1940 , contudo , a autarquia alterou o seu brasão , deixando de figurar sobre este a figura do dragão invicto que recordava o histórico papel que o Porto tivera na defesa da Liberdade e do regime liberal - ideais que não estavam em sintonia com a ditadura de Salazar que , nesse ano , num discurso a 25 de maio , assumiria : “ Afirmamo-nos (…) antidemocráticos e antiliberais , autoritários e intervencionistas ”. O FC Porto , no entanto , não alteraria o seu emblema . E outras instituições mantiveram também a mítica figura nos seus símbolos . O dragão resistia !
A portaria de 25 de abril de 1940 do ministro do Interior , que impôs uma reformulação às armas , selo e bandeira do município , poderia ter levado à adoção da nova heráldica por diversas instituições que possuíam nos seus símbolos o brasão da cidade . Foi o caso do Clube Fenianos Portuenses . Outras , no entanto , e à semelhança do FC Porto , preferiram manter inalteráveis os seus emblemas . Vejamos alguns casos que contribuem até hoje para a “ pegada ” do dragão na Invicta : Fundado em 1880 , o Grande Hotel
do Porto desde cedo adotou as armas da cidade , sob um fundo branco , como seu símbolo . E , habitualmente , na varanda central do edifício , debruçada sobre aquela que é uma das mais famosas e identitárias artérias da urbe ( a rua de Santa Catarina ), a bandeira do hotel exibe com orgulho esse brasão . Já no interior , quem se dirija à receção é igualmente recebido por esta mesma representação . Um dragão , num vitral , dá as boas vindas a quem chega ! O grande impulsionador do Grande Hotel do Porto , e seu primeiro
proprietário , foi Daniel Martins de Moura Guimarães ( 1827-1893 ), um muito viajado portuense , amante de arte , que quis prover a cidade de um muito qualificado hotel , ao nível do que de melhor conhecera nas suas viagens internacionais . E o seu desejo foi de tal forma concretizado que , durante décadas , este tornou-se mesmo na mais importante referência de alojamento no Porto , hospedando reis e Presidentes de República , artistas e políticos , destacados empresários e intelectuais , e muitos outros famosos viajantes e
turistas nacionais e estrangeiros . O Grande Hotel , reflexo entre nós da Belle Époque , nas suas linhas clássicas e revivalistas projetadas pelo arquiteto Silva Sardinha , sempre se assumiu como um espaço emblemático e de acolhimento privilegiado da cidade , contribuindo para o prestígio desta , sendo por isso natural a utilização do nome “ Porto ” na sua designação , bem assim como o seu brasão como símbolo . Mais tardio , edificado na década de 1960 , a poucas centenas de metros de distância , ergue-se na Praça da
76 REVISTA DRAGÕES NOVEMBRO 2021