MUSEU
FERNANDO JOSÉ PEREIRA :
“ FUTEBOL MUDOU PARA UMA SENSIBILIDADE MAIS ABERTA ”
Relembrando o passado do futebol , frequentado sobretudo pelos homens , Fernando José Pereira realça que este desporto “ mudou muito desse fechamento da masculinidade para uma sensibilidade muito mais aberta ”, abrindo espaço a abordagens mais heterogéneas , quiçá mais complexas do fenómeno . Por exemplo , o uso das palavras do relatador – do momento da narração do golo de Madjer –, “ transferida para uma polifonia de vozes entre o Renascimento e o Barroco ”. Surpreendente ? Claro , mas , refere o autor da obra , “ não há problema algum nisso ”. “ Vivemos uma época de técnica , de um cerco digital tecnológico , que está a fazer comprimir o tempo . A arte tem que se revelar contra isso ”, acrescentou o artista , explicando o seu pensamento : “ Faz para mim todo o sentido uma música que remete para o século XVII numa exposição do século XXI . Da mesma maneira que faz sentido que fotografias digitais e vídeos digitais convivam com desenhos absolutamente analógicos , arcaicos , se quisermos , de um lápis em cima de papel ”.
de Fernando José Pereira , uma referência na arte nacional ( e com ecos além-fronteiras ) e reconhecido pelo percurso académico como professor na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto . Também Miguel von Hafe Pérez , programador do espaço , responsável pelo convite ao artista e curador da exposição , esteve presente nesta sala inovadora , implementada no âmbito de um projeto cultural , social e pedagógico nascido da parceria entre o Museu FC Porto e a Família Espregueira Mendes . Inaugurado em março de 2019 , o EJEM dispõe de um Conselho de Programação . Miguel von Hafe Pérez ( Coordenação Executiva ), Hélder Pacheco , Isabel Pires de Lima ( Fundação de Serralves ), João Espregueira Mendes , João Fernandes ( Instituto Moreira Salles , Brasil ), Jorge Nuno Pinto da Costa ( FC Porto ), Mafalda Magalhães ( Museu FC Porto ), Nuno Vassallo e Silva ( Fundação
Calouste Gulbenkian ) e Rui Reis ( I3Bs / Universidade do Minho ) integram esse órgão . “ O Relato ”, de Fernando José Pereira , pode ser visitado até janeiro de 2022 e tem entrada livre . Este novo projeto é o terceiro a ocupar o EJEM e facilmente se prevê êxito idêntico ao dos anteriores , com elevado número de visitantes : em 2019 – ‘ Curiosidade Vertical ’ – exposição temporária de 500 anos de arte decorativa portuguesa , incluindo também autores como Álvaro Lapa , Alvarez , Paula Rego ou Tapiès ; em 2019 / 2020 – ‘ Cintilações : obras maiores do séc . XX português na coleção Ilídio Pinho ’ – trabalhos de Almada Negreiros , Álvaro Lapa , Amadeo Souza-Cardoso , Ângelo de Sousa , Arpad Szenes , Augusto Gomes , Eduardo Batarda , João Vieira , Jorge Barradas , Jorge Pinheiro , Júlio , Júlio Pomar , Júlio Resende , Manuel Rosa , Mário Eloy , Nikias Skapinakis , Paula Rego e Vieira da Silva .
MIGUEL VON HAFE PÉREZ :
“ A PARTIR DE UMA MEMÓRIA INFANTIL ”
Programador do EJEM e curador das exposições , Miguel von Hafe Pérez foi o responsável pelo desafio lançado a Fernando José Pereira e o resultado , claramente , agrada-lhe . Porque , explica , o artista “ pegou numa memória infantil ”, dos tempos em que ia com o pai ao futebol , e essa evocação “ corporizou-se na única das torres de iluminação do antigo Estádio das Antas ” que ainda resta , conseguindo a partir daqui “ fazer uma ligação ao Estádio do Dragão ”, através do filme que se projeta na parede . Evocando a realidade analógica , “ que tem a ver com o modo como percecionamos o mundo através da audição , do olhar , que foi mudando muito , e que hoje em dia , neste caldo digital em que vivemos , nesta aceleração brutal de imagens , acaba por ter uma dimensão absolutamente diferente ”.
JOÃO ESPREGUEIRA MENDES :
“ UM ENORME PRIVILÉGIO ”
Um dos principais responsáveis pela existência do EJEM , enquanto impulsionador mas igualmente como mecenas , o prof . João Espregueira Mendes faz questão se realçar o facto de se estar perante uma sala “ com exposições regulares , todas gratuitas ” e que tem objetivos bem definidos : “ Este espaço é visitado por pessoas que , a priori , não estariam tão motivadas para este tipo de exposições . Estar aqui situado , no Museu FC Porto , é , naturalmente , um orgulho muito grande , um enorme privilégio , e permite cativar um público jovem muito vocacionado para a parte desportiva e que tem assim a oportunidade de visitar uma exposição de arte mais convencional ”.
75 REVISTA DRAGÕES JULHO 2021