Dragões #415 Jun 2021 | Page 7

PERSEGUIÇÃO AO FUTEBOL

A realização da final da Liga dos Campeões no Estádio do Dragão só pode encher os adeptos do FC Porto de orgulho . Não por qualquer deslumbramento especial em relação a um jogo que é obviamente muito importante – felizmente , os portistas estão habituados a vibrar com a própria equipa em encontros da maior relevância –, mas porque o clube voltou a dar cartas , em colaboração com a UEFA e a Federação Portuguesa de Futebol , e exibiu uma superior capacidade de organização . Também isto não é novidade , ou não devia ser . Recordo , já no contexto da pandemia que começamos a ultrapassar , a forma brilhante como foram organizadas as eleições do FC Porto de há um ano ou o jogo a que chamaram teste-piloto com o Olympiacos para a Liga dos Campeões , em outubro . Nessas duas ocasiões , correu tudo na perfeição . A 29 de maio aconteceu a mesma coisa .
Parece , no entanto , que o Governo português não conhece a capacidade de organização dos clubes nacionais ou não confia neles . Para um jogo internacional , mesmo realizado em Portugal , foi autorizada a presença de mais de 14 mil adeptos nas bancadas . Se em causa estivesse um encontro da Liga portuguesa ou da Taça de Portugal , o estádio estaria vazio . É verdade que não faltariam alternativas aos nossos adeptos . Se quisessem , podiam ir aos milhares para o Pavilhão Super Bock assistir a concertos . Se morassem em Lisboa , podiam ir a uma praça de touros participar em espetáculos de comédia . Ou seja , até podiam participar em eventos com aglomerações de pessoas , desde que decorressem em espaços fechados e com muito menos condições do que os estádios . Se alguém tiver alguma explicação , agradecia que ma enviasse , porque ninguém entende esta diferença de critérios e esta perseguição ao futebol .
Se não houver explicações , como já disse publicamente , não resta alternativa aos responsáveis por isto : têm de se demitir ou ser demitidos . E se os seus superiores não tiverem competência ou coragem para fazê-lo , também não têm outra saída que não seja o abandono de funções . O hábito de as culpas morrerem solteiras é uma das principais causas do atraso de Portugal em tantos domínios .
Jorge Nuno Pinto da Costa