Dragões #468 Nov 2025 | Page 41

FUTEBOL
NOVEMBRO 2025 REVISTA DRAGÕES antes de assinar contrato:“ A primeira impressão que tive foi em novembro do ano passado, quando jogámos pela seleção polaca no Porto. Agora posso ver a cidade sob uma perspetiva diferente e vou conhecendo os cantinhos mais típicos.” O que o marca, porém, é a forma como o futebol coloniza a vida portuense:“ Toda a cidade e os adeptos vivem o FC Porto e amam este clube. Parece mesmo uma religião ou uma cultura para quem vive aqui.” É daí que nasce a frase que o define:“ Há motivos para lutar e pessoas pelas quais vale a pena lutar.” A estreia no Estádio do Dragão cristaliza esse sentimento. O central descreve o momento da chegada do autocarro como uma faísca coletiva: milhares de pessoas na receção, varandas cheias e cachecóis no ar a gerar a energia que atravessa a carroçaria e entra no balneário.“ Sente-se que é obrigatório vencer. Não há outra alternativa”, sublinha. A palavra que escolhe para resumir o clube é“ paixão”, mas não se fica por aí: sublinha o ADN vencedor e aquilo que esse ADN impõe a cada jogador— esforço, foco, responsabilidade. Kiwior fala menos e observa mais. Também ele já conhecia o Dragão dos tempos da seleção, mas o primeiro jogo com a camisola azul e branca, frente ao Nacional, ficou-lhe colado à pele.“ A atmosfera ajudou-me imenso a entrar no ritmo”, diz, antes de desenhar uma imagem muito própria da cidade: jantar com a esposa junto à Ponte Luís I, paisagens fantásticas, bandeiras nas varandas e o futebol a acontecer em todo o lado, não apenas dentro de campo. Quando procura uma palavra para definir o FC Porto, escolhe“ qualidade”. E desenvolve:“ É agradável que todos aqui têm um único objetivo … em cada jogo, a ideia é a mesma: ganhar. Não são só os jogadores, toda a gente partilha o mesmo pensamento: vencer.” A dupla funciona porque a gramática é comum e a sintaxe é complementar. Bednarek assume o comando emocional da linha – escolhe quando baixar a profundidade, quando subir o bloco, quando simplificar primeira saída – e Kiwior oferece o corredor esquerdo com critério, aceleração e cobertura de grandes distâncias. Quando a equipa sobe, muitos ganham espaço enquanto Bednarek ganha encargos. Quando a equipa precisa de ligar rápido, Kiwior dá metros à jogada sem perder o norte. Um trabalha o tempo, o outro abre a estrada. O resultado
vê-se menos nas fotografias e mais na tranquilidade coletiva: a equipa parece mais segura, mais fiel ao que pretende. Nas entrelinhas mora algo que vai além do posicionamento: o compromisso com o público. Bednarek fala de“ obrigação de vencer” como combustível e não como peso. Kiwior descreve a cidade como uma espécie de estádio alargado, em que as ruas e as margens do Douro são bancadas a céu aberto. Um chama-lhe paixão, o outro qualidade, mas ambos convergem no essencial: o FC Porto move-se por uma ideia simples – ganhar. Talvez por isso o eixo polaco tenha
Bednarek sobre Kiwior:“ Ele é tranquilo e calado fora do campo, mas dentro dele é bem barulhento. Ele tem dois lados, parece que ativa um botão e muda de comportamento quando o jogo começa.”
Kiwior sobre Bednarek:“ Ele tem mesmo algo de especial, se quiser algo, vai atrás disso com determinação. É mesmo uma daquelas pessoas que, quando tem um objetivo, faz tudo para o alcançar. Tanto dentro
pegado de estaca. Não é só química de passaporte, é afinidade de caráter. Bednarek traz a cabeça fria e o compasso firme, Kiwior acrescenta leveza e precisão.“ Vale a pena lutar pelos portistas”, garante o primeiro.“ Todos partilham o mesmo pensamento: vencer”, remata o segundo. Entre a paixão e a qualidade, há uma ponte – e, desta vez, não é só a Luís I. É a ponte que liga a cidade ao relvado, o autocarro às varandas, o passado que os trouxe ao presente que os reclama. E é por essa ponte que o FC Porto atravessa os jogos, com Bednarek a marcar o ritmo e o seu espelho canhoto a abrir caminho.
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