Dragões #466 Set 2025 | Page 35

FUTEBOL
SETEMBRO 2025 REVISTA DRAGÕES

O percurso foi rápido, mas trilhado passo a passo. 7 de agosto de 2022: estreia profissional na Segunda Liga frente ao Sporting da Covilhã, ainda com a escola do Olival nas pernas. Outubro de 2023: primeiros minutos pela equipa A em Chaves, diante do Vilar de Perdizes e em jogo a contar para a Taça de Portugal. Entre uma data e outra acumulou o mais relevante para um jovem determinado a concretizar o sonho de uma vida: treino, competição e responsabilidade. Pelo meio, a confirmação pública do talento: o Dragão de Ouro em 2023, na categoria de Atleta Revelação do Ano, a presença na final four da UEFA Youth League e a experiência de quem passou pela equipa B e aprendeu a jogar sob pressão. A época de 2023 / 24 deixou o primeiro carimbo no palmarés: seis jogos na equipa principal, incluindo a final da Taça de Portugal, e o primeiro título como sénior. A afirmação definitiva chegaria no ano seguinte, logo no jogo que define ambição e caráter. Contra o Sporting, na Supertaça, Martim fez 120 minutos de maturidade competitiva numa reviravolta que ficará como uma das imagens de marca de um arranque ao mais alto nível. Ao troféu seguiu-se consistência: 37 jogos oficiais e seis assistências distribuídas ao longo da época— duas na Vila das Aves, duas frente ao Estoril, uma no dérbi com o Boavista e outra perante o Nacional, na última jornada do campeonato. O número 52 tornou-se assinatura, mas o que o distingue é menos o número e mais a forma. Martim é intensidade com critério: ataca o espaço por fora ou por dentro, dá linha de passe, cruza com tempo,“ morde” no duelo e recupera posição com sentido de tempo e espaço. A condução firme, a agressividade positiva e a saída limpa para o jogo apoiado explicam a polivalência: tanto estica a equipa na ala direita como fecha o corredor oposto quando a estratégia o pede. Há, sobretudo, uma ideia de responsabilidade competitiva que não se ensina, reconhece-se.

Sob o comando de Francesco Farioli, fez toda a pré-temporada e abriu a Liga como titular na vitória por 3-0 sobre o Vitória de Guimarães, saindo lesionado aos 54 minutos. O contratempo não muda o essencial: a ligação até 2030 dá tempo para crescer com calma, consolidar rotinas, somar jogos europeus, afinar detalhes. O FC Porto protege um ativo estratégico e aposta, ao mesmo tempo, no símbolo certo: um produto da formação que chega à equipa principal com naturalidade, que já conquistou títulos e que transporta para dentro do campo a cultura competitiva do clube. A renovação é também uma mensagem para dentro e para fora. Para dentro, porque mostra aos que crescem no Olival que o mérito tem porta de saída para o relvado principal; para fora, porque

“ É mérito do jogador, mas também de uma estrutura que acredita, dá minutos e acompanha o crescimento.” – André Villas-Boas

afirma que o FC Porto continua a reter talento, valorizando-o com jogos grandes, troféus e um contexto que acelera a maturidade. O relógio do futebol corre depressa, mas a estrutura que o acolhe é feita para o longo prazo, e a cláusula de 80 milhões não é apenas um número: é um sinal estratégico de confiança no jogador e no modelo que o formou. Quem viu Martim na Youth League, quem o acompanhou na B ou o aplaudiu na Supertaça, reconhece um padrão: coragem na decisão, resiliência quando o jogo se torna duro, capacidade de aprender depressa. Esses traços não se medem em estatística, mas explicam as estatísticas: minutos somados, assistências úteis, jogos de campeonato, Taça e Supertaça a construírem um mapa de crescimento sustentado. A isto junta-se a dimensão humana— discreta, focada— de quem, vinculado ao clube do coração por mais cinco anos, só pensa em“ dar alegrias aos portistas”. A história ainda agora começou, mas já tem capítulos que se contam de memória: Valongo, Olival, Covilhã, Chaves, Jamor, Aveiro, os 37 jogos, as seis assistências, a Supertaça. O resto escreve-se com trabalho e com aquilo que o FC Porto exige a cada atleta que veste estas cores: ambição, compromisso e vitórias. Martim Fernandes tem o caminho à sua frente e o corredor por onde mais gosta de acelerar. Até 2030— e, se possível, muito para lá dos números— o objetivo é sempre o mesmo: transformar talento em títulos, minutos em memórias e potencial em presente. Depois da renovação de contrato, Martim falou com a serenidade de quem cresceu no Olival e sabe o que significa a camisola que veste. Agradeceu à família, aos treinadores da formação, ao staff e aos colegas que o ajudaram a chegar à equipa principal, sublinhando que a prorrogação do vínculo“ é um passo enorme, mas também uma responsabilidade diária”, e reforçou a intenção de continuar a trabalhar sem saltar etapas. André Villas-Boas enquadrou o acordo como uma decisão estratégica: segurar talento formado em casa, competitivo desde cedo e identificado com os valores do clube. O presidente sublinhou que Martim representa a ponte entre a excelência da formação e a exigência de topo, e que a evolução“ é mérito do jogador, mas também de uma estrutura que acredita, dá minutos e acompanha o crescimento”. A extensão do vínculo até 2030 é lida como sinal de confiança mútua e de continuidade de um projeto que valoriza a identidade portista sem abdicar da ambição europeia, acrescida de uma bela justificação:“ O Martim é Porto da cabeça aos pés”. As duas vozes convergem na mesma ideia: mérito, trabalho e futuro. O presidente vê na renovação um referencial para a formação; o lateral devolve em campo a aposta com maturidade competitiva e fome de títulos. Entre a gratidão e a determinação, fica o compromisso: fazer do número 52 um sinónimo de fiabilidade e manter o corredor azul e branco em alta rotação.
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