TEMA DE CAPA
JULHO 2025 REVISTA DRAGÕES
A noite em que o capitão virou o jogo
Estádio do Restelo, 19 de janeiro de 2003. Dez mil vozes assistem a um FC Porto irreconhecível, em desvantagem e sem reação. O título está em jogo, mas a equipa parece ausente. Era uma daquelas noites em que“ entram as camisolas, mas os jogadores não estão lá”, como diria mais tarde Jorge Costa, o capitão prestes a mudar o rumo dos acontecimentos.
TEXTO de ALBERTO BARBOSA
Embalado por uma vitória em Alvalade, o FC Porto procurava somar mais três pontos em Lisboa para manter distâncias na corrida pelo título, mas ao intervalo o cenário era sombrio, porque, mais do que estar a perder, os azuis e brancos pareciam ausentes. Com o Belenenses em vantagem, graças a um golo de Verona, Jorge Costa precipitou-se em direção aos bastidores do estádio assim que Olegário Benquerença, o árbitro, autorizou a pausa para o descanso. Decidiu agir antes mesmo do treinador, porque para ele o problema não se resumia a recuperar da desvantagem – tratavase de defender o orgulho e a camisola num momento decisivo da temporada.“ Fui o primeiro a chegar ao balneário no intervalo e não me contive. Rebentei. Estava revoltadíssimo, porque era um jogo importante numa fase crucial e porque era o Belenenses novamente a criar problemas”, contou o defesa central anos depois. José Mourinho percebeu de imediato o que estava a acontecer.“ Quando eu ia para o balneário o Jorge pediu-me para esperar do lado de fora dois minutos. Ele entrou, fechou a porta e fez o trabalho sujo por mim. Depois abriu a porta e disse-me para eu os treinar. Ele fez tudo o que eu faria”, contou o treinador. Segundo o técnico, o discurso do capitão tocou exatamente no ponto certo. Jorge foi direto, frontal e até lançou um ultimato: se o FC Porto não ganhasse, terminaria ali a carreira. Era mais do que motivação, era um grito de revolta.
A RESPOSTA EM CAMPO A segunda parte foi tudo o que o intervalo prometeu. Quatro minutos depois do recomeço, na sequência de um canto, Jorge Costa empatou o jogo com um golpe de cabeça forte e colocado, como se tratasse de um pontapé. E o golo não foi apenas um momento de esperança, foi o sinal inequívoco de que o capitão estava disposto a liderar pelo exemplo. Pouco depois, iniciou um contra-ataque, correu a toda a largura do campo e finalizou a jogada. Dois golos num só jogo, algo que nunca tinha conseguido.“ Tive a sorte e a felicidade de fazer dois golos nesse jogo. Mais uma vez, nada acontece por acaso”, observou, mais tarde, Jorge Costa. O FC Porto venceria por 3-1, com Alenichev a fechar o resultado aos 89 minutos, e o triunfo ficou gravado como uma lição de liderança, não apenas pela reviravolta no marcador, mas pela forma como um
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