“ O jogador à Porto é aquele que , em primeiro lugar , pensa e acredita que é possível ganhar todos os jogos . Essa é a primeira condição .”
TEMA DE CAPA
FEVEREIRO 2025 REVISTA DRAGÕES
“ O jogador à Porto é aquele que , em primeiro lugar , pensa e acredita que é possível ganhar todos os jogos . Essa é a primeira condição .”
“ O mais completo era o Madjer , porque ele jogava com o pé direito como jogava com o pé esquerdo , marcava livres com um ou outro pé , era agressivo , era rápido , jogava bem de cabeça , tinha um drible fantástico , não tinha defeitos ... Dizer que o melhor foi este ou aquele é subjetivo , mas não tenho a menor dúvida de que o mais completo foi o Madjer .”
Quando escolhemos e contratamos um jogador é sempre na expectativa de que ele vá triunfar . Todas as contratações que nos levam ao sucesso deixam-me muito satisfeito por pensar que as fiz , mas foram tantos bons jogadores que tivemos que é difícil escolher um . Uma vez , por exemplo , fomos a Génova contratar o Branco , que eu achava que ia ser , como de facto foi , um jogador extraordinário , que até jogou durante vários anos seguidos na seleção do Brasil . Fui eu e o Luciano , que na altura era o nosso diretor desportivo e lhe expôs as nossas condições , e o Branco só me falava dos cães : “ Ó presidente , nós depois vemos as contas , mas há aqui um problema . É que eu tenho dois cães e eu tenho que levar os cães comigo ”. Só falava dos cães . “ Os cães têm que ir comigo , os cães têm que ir comigo para o hotel ”. Resolver a questão do contrato era resolver o problema dos cães . Liguei então para o hotel onde estagiávamos , que era o Porto Palácio , e expus o problema ao
diretor , que o resolveu . O Branco não se preocupou absolutamente nada com o contrato , com o valor do contrato , só com os cães . E foi uma grande contratação , porque veio a revelar-se um jogador importantíssimo e fabuloso , além de ser uma pessoa fantástica .
Que jogador lhe custou mais ver sair , seja pelas circunstâncias em que a saída aconteceu , seja pela qualidade do jogador em questão ? Custa-me sempre ver um jogador do FC Porto sair . Por vezes , quando me dizem que fizemos um grande negócio … Não fico revoltado , mas fico a pensar que as pessoas só pensam no negócio . Para mim , ver sair um bom jogador , e daqueles que são à FC Porto , custa-me sempre . Houve dois que me custaram particularmente . Um foi o Vítor Baía , porque ele estava no auge e eu tinha consciência de que ia acontecer o que aconteceu , que íamos passar duas épocas a experimentar guarda-redes por não haver à altura guarda-redes daquela categoria livres para poderem vir para o FC Porto . Custou-me pela saída do jogador e pelas consequências . Mas houve outro que também tive muita pena de ver sair , que foi o João Moutinho . Na altura , o Jorge Mendes tinha negociado a saída dele para o Everton e eu achava que ele era um elemento muito importante - e veja que , passados tantos anos , ainda joga na seleção nacional - e um jogador influentíssimo de quem eu gostava muito . O João veio falar comigo e eu disse-lhe : “ Olha , eu não quero que tu saias , compreendo que não temos possibilidades de acompanhar essa proposta e tu tens esse direito de sair , mas eu gostava que tu não saísses , porque amanhã vou ser operado ao coração ”. E fui , de facto . E havia pessoas que diziam que eu podia ir de vela , para os anjinhos . Por isso mesmo insisti : “ Amanhã vou ser operado ao coração e gostava muito que tu estivesses cá quando eu acordar ”. A questão ficou encerrada ali . “ Presidente , acabou !”, respondeume ele . “ Vá ser operado tranquilamente porque eu não saio por dinheiro nenhum ”. E ficou cá mais um ano , só no ano seguinte saiu para o Mónaco , numa grande operação financeira . O comportamento dele marcou-me tanto que tive imensa pena quando o vi sair – e aí já era impossível mantê-lo cá .
Ao longo desta entrevista já usou duas ou três vezes a expressão “ jogador à Porto ”. O que define esse tipo de jogador e quais são aqueles que melhor encaixam nesse perfil ? O “ jogador à Porto ” é aquele que , em primeiro lugar , pensa e acredita que é possível ganhar todos os jogos . Essa é a primeira condição . E que depois se sacrifica pelo clube , dando tanta importância ao êxito dos colegas como ao seu , não está a pensar que neste jogo vai ter que brilhar , mas sim que a equipa vai ter que brilhar e que , se brilhar outro qualquer que não ele , isso lhe é indiferente . Esse é o espírito que resume o “ jogador à Porto ”.
1998 6 abril Liga |
1998 24 maio Taça de Portugal |
1998 9 setembro Supertaça |
1999 22 maio Liga |
1999 15 agosto Supertaça |
27 |