OS IMORTAIS
O futebol corria-lhe no sangue , não tinha por onde escapar . O pai tinha jogado , os irmãos jogavam , ele jogaria também . Começou no modesto Drogenbos , mas rapidamente despertou o interesse do Anderlecht , que o recrutou aos 14 anos , quatro temporadas antes da estreia pela equipa principal no arranque de um ciclo dourado dos “ mauves ”: com eles ganhou três ligas , uma taça e três supertaças da Bélgica . Só deixou Bruxelas seduzido pelo sonho italiano , no auge da Serie A , mas jogar para não descer em Bolonha não era exatamente o que esperava . Era “ um defesa moderno , um defesa que parte para o ataque ”. A caracterização , desenvolvida mais adiante , é do próprio Demol , recuperada de uma entrevista que concedeu à DRAGÕES pouco depois de ter chegado às Antas , no verão de 1989 , para alinhar ao lado de consagrados como João Pinto , Branco e Madjer e de duas estrelas em ascensão : Vítor Baía e Domingos . “ Esse é o meu estilo ”, explicou na altura . “ Sempre fui assim , sempre joguei assim e penso que foi precisamente por isso que me quiseram no FC Porto . A forma como jogo implica que acabe por marcar três ou quatro golos por época ”. Falhou por defeito , porque a média foi amplamente superada de azul e branco e assinalada com um recorde pessoal : impôs-se rapidamente entre as escolhas de Artur Jorge e fez 12 golos em 39 jogos , todos eles de penálti .
SELEÇÃO MUNDIAL Em março de 1989 , já internacional pela Bélgica , Stéphane Demol travou conhecimento com João Pinto e Rui
Águas poucos meses antes de chegar ao Porto , quando integrou a seleção do Resto do Mundo que participou no jogo de despedida de Zico , vencendo em Udine , e ao lado dos dois dragões , uma seleção brasileira composta exclusivamente por jogadores que atuavam nas ligas europeias . Em 1989 / 90 , numa época de alterações profundas no plantel , que perdeu vários campeões europeus de Viena , e depois de um arranque intermitente no campeonato , o FC Porto assumiu a liderança isolada à nona jornada e confirmou a conquista do título à antepenúltima , quando Jorge Couto garantiu , com um golpe de cabeça , o triunfo sobre o Vitória de Setúbal que deixou o Benfica a uma distância de segurança de quatro pontos , justamente porque o empate na Luz e a vitória
NOVEMBRO 2024 REVISTA DRAGÕES
nas Antas , garantida por um golo de Demol , colocavam os azuis e brancos em vantagem no confronto direto , sistema a que não foi preciso recorrer . Campeão em Portugal aos 24 anos e com vários golos decisivos na bagagem ( além de marcar ao Benfica , bisou frente ao Braga e ao Sporting ), Stéphane Demol mudou-se para França , numa transferência de que viria a arrependerse profundamente . “ Recebi uma proposta milionária do Toulouse e cometi o maior erro da minha carreira . Podia ter sido um Aloísio , mas fui estúpido ”, reconheceria anos mais tarde . Regressou ao país de origem pouco mais de uma época depois , mas não para o destino que tinha traçado por ocasião da conversa com a DRAGÕES . “ Se voltar à Bélgica para jogar futebol , creio que não irei para outro clube que não seja o
Estádio das Antas , 22 de outubro de 1989 . Stéphane Demol foi campeão na única época em que vestiu a camisola do FC Porto . Artur Jorge fez dele um especialista na transformação de penáltis e o central belga terminou a temporada de 1989 / 90 com 12 golos marcados e nenhum mistério : “ Não havia qualquer segredo ”, garantiu numa entrevista recente : “ Não pensava em enganar o guarda-redes , mas sim em colocar a bola de forma a que o guarda-redes não lhe chegasse ”. Numa das tentativas , transformada no clássico da sexta jornada frente ao Benfica , fez o resultado e um golo que nunca mais esqueceu . Esse e o que deu o título ao Anderlecht em 1986 , apontado ao Club Brugge , contou décadas mais tarde .
Sempre com Demol a titular , a Bélgica afastou a seguir a Espanha de Míchel , Brutragueño e Salinas e só foi travada nas meias-finais pelo génio de Diego Maradona , que fez uma exibição soberba e os dois golos da vitória , continuando a carregar a Argentina até ao título mundial .
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