Dragões #454 Set 2024 | Page 49

“[ Jorge Costa ] Acabava o treino e punha quatro ou cinco sacos de gelo em cima do joelho e no dia seguinte lá estava ele , preparado para mais uma dose .”
O GOLO DA MINHA VIDA
SETEMBRO 2024 REVISTA DRAGÕES
(*) versão revista do texto original publicado na edição de dezembro de 2016
Mourinho fez referência àquela vitória e ao quanto tinha sido importante aquele golo . Não foi o que me deixou mais feliz , mas foi o que teve mais impacto e o mais bonito de toda a minha carreira ”.
MOURINHO CHAMAVA-LHE LUÍS ENRIQUE Inspirado pelo comportamento de Cândido Costa no relvado , fosse no jogo ou no treino , o treinador chegou a chamar-lhe “ o Luís Enrique do FC Porto ”. “ Esse elogio não me ofusca . Na altura pode ter-me iludido um pouco , mas não me ofusca , porque acho que o disse de forma pensada e até justa para aquilo que eu representava no balneário naquela altura . Tenho , no entanto , a noção de que o Luís Enrique foi um monstro do futebol e que eu não fiz , nem de longe nem de perto , uma carreira que se possa comparar à dele ”, assume . Então , por que razão José Mourinho chamava Luís Enrique a Cândido Costa ? “ Eu personificava um pouco o jogador que o treinador apreciava ”, explica . “ O tipo que , jogando ou não , trabalhava sempre na mesma , que batalhava nos treinos ”. Mas , “ mal aconselhado ”, pediu para sair . “ Fui um perfeito idiota ”, reconhece . “ E podia ter ganho uma Champions , porque eu não saía enquanto o Mourinho cá estivesse ”. Em vez disso , jogou a época inteira no Derby Conty e aplaudiu a vitória do FC Porto em Gelsenkirchen . “ Aquele grupo de jogadores que ganhou a Taça UEFA e a Liga dos Campeões é o meu grupo ”, alega com orgulho . “ Mesmo correndo o risco de parecer vaidoso , digo-o com todas as letras : Eu faço parte daquela casta . O meu maior erro foi pensar que saía para rodar e que voltava pela porta grande ”. Enganouse . José Mourinho saiu entretanto .
JORGE COSTA , O BRAVO Apesar dos elogios e da admiração de Mourinho , para Cândido ninguém encarnava a causa como Jorge Costa . “ Ele não se limitava a dizer , também fazia . E às vezes com dificuldades físicas ”, conta . “ Era bravo , trabalhava muito e já depois de três operações ao joelho ia sempre à frente , liderava , estivesse ele cansado ou com dores . Acabava o treino e punha quatro ou cinco sacos de gelo em cima do joelho e no dia seguinte lá estava ele , preparado para mais uma dose . Era respeitado pelo que dizia , como dizia e , sobretudo , pelo que fazia . Ele era um exemplo . Nos treinos e nos jogos ”. Hoje , Cândido percebe melhor do que nunca que não deveria ter dado o melhor , os seus 100 %, quota que julgava ser suficiente . “ Com o tempo fica mais fácil perceber ”, diz . “ Deveria ter dado 300 %, tinha que ser tudo ”, conclui , resignado mas feliz pelo facto de o FC Porto o ter levado a todo o lado . “ Fez-me tocar as estrelas ”. E jogar ao lado de ídolos que davam forma aos cromos que colava na cabeceira da cama .
“[ Jorge Costa ] Acabava o treino e punha quatro ou cinco sacos de gelo em cima do joelho e no dia seguinte lá estava ele , preparado para mais uma dose .”
49