“ Não foi nada de transcendente , mas para o jovem Cândido foi um momento muito dele . Se fizesse um minimuseu em casa , esse golo seria exibido em loop como se fosse o golo do Kelvin .”
O GOLO DA MINHA VIDA
SETEMBRO 2024 REVISTA DRAGÕES
Era só um golo , mas a entrevista cresceu , porque depois veio outro , quando o individual já cedia lugar ao coletivo e o jogo de perguntas e respostas se transformava numa lição sobre génio e atitude . Já não se falava de Cândido Costa . Falava-se de José Mourinho , Jorge Costa , Deco , Drulović e Alenichev . Até Luís Enrique , hoje treinador do Paris Saint-Germain , foi chamado à conversa . Tudo por causa de um golo , que nem foi o mais bonito de todos os que marcou . Foi “ só ” aquele que mais o marcou .
“
Atenção , eu não fiz muitos golos !”. Cândido ainda não se tinha sentado , mas já sugeria com piada uma pesquisa minuciosa para os encontrar . Não o fizemos , nem procurávamos muitos , explicámos . Apenas bons . Era médio , por vezes até defesa , e não tinha o golo na ponta da bota , reconheceu . Mas tinha-o agora na ponta da língua , ao ponto de não precisar de mais de dois segundos para eliminar da busca o mais brilhante de todos , porque , explicou adiante , procurava muito mais do que um golo bonito . Procurava o golo de uma vida . Sabia que tinha melhores , alguns perfeitos , mas nenhum tão bom para ele como aquele , como o de Faro . Naquela tarde de outubro , no Algarve , onde sentou Capucho no banco de suplentes e entrou no onze , Cândido era ainda “ um jovem desconfiado ” de tudo o que lhe estava a acontecer . “ A minha felicidade era tanta que eu tinha receio que tudo aquilo pudesse acabar a qualquer momento ”, explica o “ influencer ” com quase meio milhão de seguidores no Instagram e arte para a reportagem , o comentário e o entretenimento televisivo . Tinha 19 anos , apenas três meses de FC Porto , e para ele era tudo um sonho . Até que marcou e a dúvida de poder estar a viver uma ilusão deu lugar a uma experiência “ absolutamente delirante ”. A 2 de outubro de 2000 , no Estádio de São Luís , em Faro , a sexta jornada da Liga colocava o Farense no caminho do FC Porto e Pena já tinha marcado .
Cândido pode não ter memorizado a data , mas do golo não se esquece . “ Lembro-me perfeitamente ”. Tão depressa o garantiu como o provou com uma reconstituição pormenorizada . “ Foi na sequência de um canto no lado esquerdo , que o Deco bateu ”, arranca . Depois de embalado , é impossível pará-lo . “ Era suposto que fosse um canto normal , um canto clássico para a área , e a minha missão era ficar à entrada da área , para ganhar a segunda bola . O Deco quis pôr a bola no Drulović , só que o Hassan saiu na pressão , o Drulo saltou e a bola veio direitinha para mim . Dominei com um toque para a frente , rematei , a bola sofreu um ligeiro desvio num adversário e entrou ”. Aos 54 minutos de jogo , o primeiro golo de Cândido Costa com a camisola do FC Porto estava feito . “ Fiquei louco de tão feliz que estava ”, recorda . “ Senti-me alguém muito especial … Eu , eu tinha feito os adeptos do FC Porto saltar nas bancadas e as câmaras de televisão não me largavam . Todas as atenções estavam focadas em mim ”. Já não havia mais do que duvidar , lembra-se de ter pensado na altura . “ Se eu até já faço golos , se tenho interferência no resultado , então isto é mesmo um facto . Eu sou jogador do Porto !”. Na viagem de regresso , Cândido ainda estava “ a mil ”. As emoções dominavamno quando , de repente , se lembrou dos vídeos de final de época , com os quais cresceu a admirar e a desejar o mundo do futebol . “ Isto já ninguém me tira ”, pensou . “ Independentemente de ter sido ou não um grande golo , vou
“ Não foi nada de transcendente , mas para o jovem Cândido foi um momento muito dele . Se fizesse um minimuseu em casa , esse golo seria exibido em loop como se fosse o golo do Kelvin .”
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