Diversifica Online 007 | Page 41

completo das fronteiras entre os gêneros. Um homem baiano, negro, homossexual, com uma consistente formação em ballet clássico pode encarnar Giselle? Para qualquer bailarino das tradicionais escolas e companhias de Dança a resposta seria, obviamente, “Não!”. No entanto, pensando nos movimentos de revi- são dos papéis sociais que, sem cessar, levantam ques- tões para todos indivíduos contemporâneos, tal per- gunta se responderia com outras: Que Giselle é essa? O que ela representa? O que (ou quem) poderia ser essa Giselle contemporânea? E, por fim, quem nos diz o que é ou não permitido na atualidade? Proponho com o trabalho uma reflexão sobre questões de gênero e sexualidade que ainda são pouco debati- das na Dança, transpondo uma peça cênica clássica para a realidade contemporânea, agrupando conheci- mentos teóricos e a prática artística que nascem do desejo de pensar sobre a constituição dessas barreiras sobre o que é “do homem” e o que é “da mulher”, a partir de uma desconstrução operada dentro do ballet clássico. Tal abordagem é uma proposição que promo- ve uma revisão de todo o universo dessa linguagem, sem que sua rígida técnica precise ser necessariamente abandonada. É a partir dessas questões que o clássico é revisitado, se tornando ponto de partida, material e espaço de expansão do binarismo impositivo que limita os gêne- ros dentro do ballet e na cultura onde ele se insere. O solo/performance foi pensado para ser realizado dentro de um banheiro, borrando e poluindo o univer- so lúdico e higienizado que o ballet sugere, inspirando novos significados ao personagem nesse ambiente até então hostil e inapropriado, propondo assim novas vivências ao intérprete e ao público. O trabalho após ser apresentado em vários espaços foi premiado no Festival Internacional Vivadança, em 2013. DIV ERSI FICA DIVERSIFICA 41