completo das fronteiras entre os gêneros.
Um homem baiano, negro, homossexual, com uma
consistente formação em ballet clássico pode encarnar
Giselle? Para qualquer bailarino das tradicionais escolas
e companhias de Dança a resposta seria, obviamente,
“Não!”. No entanto, pensando nos movimentos de revi-
são dos papéis sociais que, sem cessar, levantam ques-
tões para todos indivíduos contemporâneos, tal per-
gunta se responderia com outras: Que Giselle é essa? O
que ela representa? O que (ou quem) poderia ser essa
Giselle contemporânea? E, por fim, quem nos diz o que
é ou não permitido na atualidade?
Proponho com o trabalho uma reflexão sobre questões
de gênero e sexualidade que ainda são pouco debati-
das na Dança, transpondo uma peça cênica clássica
para a realidade contemporânea, agrupando conheci-
mentos teóricos e a prática artística que nascem do
desejo de pensar sobre a constituição dessas barreiras
sobre o que é “do homem” e o que é “da mulher”, a
partir de uma desconstrução operada dentro do ballet
clássico. Tal abordagem é uma proposição que promo-
ve uma revisão de todo o universo dessa linguagem,
sem que sua rígida técnica precise ser necessariamente
abandonada.
É a partir dessas questões que o clássico é revisitado, se
tornando ponto de partida, material e espaço de
expansão do binarismo impositivo que limita os gêne-
ros dentro do ballet e na cultura onde ele se insere. O
solo/performance foi pensado para ser realizado
dentro de um banheiro, borrando e poluindo o univer-
so lúdico e higienizado que o ballet sugere, inspirando
novos significados ao personagem nesse ambiente até
então hostil e inapropriado, propondo assim novas
vivências ao intérprete e ao público. O trabalho após
ser apresentado em vários espaços foi premiado no
Festival Internacional Vivadança, em 2013.
DIV
ERSI
FICA
DIVERSIFICA 41