ENTRE CORTES
por Luisa Duprat /Maria Tuti Luisão
Esse texto pode começar assim: Agora me ocorreu, será que eu pago
um preço tão caro assim? Vem cá, mami. Foi o que eu disse. Alto.
Gatinhas com suas gatinhas, gatinhas bucth, fazendo demais. Vrum
vrum de caminhões cheios de flores horizontais. Que rezas com
deus(AAA) me deito, com deusa me levanto. Comer com os olhos é
ver. Bater um PF com o olho gordo, inchando três quilos de belezura.
E foi aí que você deitou na curva quente do meu olho. Se encaixou e
me pareceu perfeito que estivesse ali naquele exato momento. Supe-
rwoman, eu e você num bloco de carnaval, antes perdendo e, depois,
virando o próprio beco. As duas encalacradas. Grudadas, desespera-
das, boca com boca, peito no cu, boca no joelho, dedo na orelha,
baba em tudo, língua no cu, muita baba, peito na buceta, boca no
dedão, língua nas costas, mordendo, devorando, engolindo, masti-
gando tudo, cuspindo mil pedaços de desgraça pouca de amor. Você
cabendo inteira na minha boca. Eu te tateando com minha língua.
Você sendo só delícia no céu da minha boca.
Ou assim: Nós, de países terceiro-mundistas, tivemos nossos corpos
tomados, os buracos invadidos e os prazeres saqueados. Precisamos
encarar o gozo de nossas carnes como território conquistado,
imprescindível para as lutas anticoloniais, antimachistas e antihete-
rocentristas. As relações sexuais entre corpos vaginados, com frequ-
ência, são tratadas como inúteis, uma vez que não se relacionam
com a reprodução e sim, primordialmente, com o prazer. São corpos
horizontais de desejo. O prazer trafega pelo corpo-mar: peito no cu,
joelho na buceta, boca no dedo, língua no ouvido. Buracos multipli-
cantes. Desfazedores do percurso direto, reto e ereto de um pau
DIV
ERS
FICA I
DIVERSIFICA 19