Jornal O Sul - Página 4 - 04 / 04 / 2014 « A triste separação - Brigada Militar e Bombeiros »
É de se indagar como a amputação de um braço da Brigada Militar resolverá o problema da histórica carência de recursos do Corpo de Bombeiros ( e também do policiamento ostensivo , ambiental , rodoviário , etc .), posto que – separados ou no status quo – a origem dos recursos con nuará vindo do Tesouro do Estado , e a vontade polí ca de liberá-los , do Chefe do Poder Execu vo , a quem a “ nova ” ins tuição permanecerá vinculada .
Na condição de eterno brigadiano , é com profunda tristeza que recebo a no cia de que a Assembleia Legisla va analisará proposta de desmembramento do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar , tornando-o uma ins tuição autônoma .
Essa inicia va me levou a recordar dois lamentáveis episódios ocorridos em solo gaúcho : o sinistro que consumiu o prédio das Lojas Renner , no centro de Porto Alegre , em 27 de abril de 1976 , que resultou em 41 mortos e mais de 60 feridos , e o outro em Santa Maria – mais recente e las mavelmente pior –, que vi mou 242 jovens e feriu 116 , quando , na madrugada de 27 de janeiro de 2013 , o fogo destruiu , de uma só vez , as paredes da Boate Kiss e a vida de centenas de famílias .
Nesses terríveis acontecimentos convergem alguns traços de semelhança , dos quais destaco os que entendo mais relevantes : a coragem e a bravura inenarráveis dos “ homens do fogo ”, como são conhecidos os valorosos integrantes do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar , e a histórica carência de recursos com que exercem o seu o cio / sacerdócio .
Embora os fatos estejam separados por um lapso de 37 anos , percebe-se que a falta de equipamentos fundamentais ao combate ao fogo ainda permanece , ou , pior , aumentou , levando-se em conta que a população gaúcha cresceu , assim como se elevaram em altura e quan dade as edificações nas grandes cidades .
Nesse período – considerando os vários governos –, a situação , ante as evidências , pouco melhorou , sob o argumento de que equipamentos , viaturas e recrutamento de policiais demandam elevados recursos , bem como o inves mento nessa área foi o maior que as combalidas finanças estaduais podem suportar .
Diante desse cenário , demonstra-se incompreensível a separação . É de se indagar como a amputação de um braço da Brigada Militar resolverá o problema da histórica carência de recursos do Corpo de Bombeiros ( e também do policiamento ostensivo , ambiental , rodoviário , etc .), posto que – separados ou no status quo – a origem dos recursos con nuará vindo do Tesouro do Estado , e a vontade polí ca de liberá-los , do Chefe do Poder Execu vo , a quem a “ nova ” ins tuição permanecerá vinculada .
O avanço da moderna medicina guardou , felizmente , as amputações ele vas no passado e permi u que aquelas decorrentes de acidentes fossem restauradas por microcirurgias que recolocam o membro no local de origem .
Será que , em pleno século XXI , o atento Poder Legisla vo gaúcho permi rá a amputação de um membro da Brigada Militar , sob o argumento de que a separação pura e simples fará nascerem recursos da noite para o dia ?
O pretexto da falta de recursos , como real e único mo vo da separação , poderá , na sequência , com a mesma lógica , servir para também separar outros órgãos especializados , fa ando a valorosa Brigada .
Entendo que o Estado deve deixar de criar novas estruturas e des nar recursos humanos e materiais suficientes à Brigada Militar , para que ela possa cumprir sua missão cons tucional , permanecendo forte , una e mo vo de orgulho a todos nós , que vivemos nesta terra gaúcha , por bem mais do que seus 176 anos .
Entretanto , para minha alegria , par cipei recentemente de uma reunião no QCG com o atual e alguns ex-Comandantes-Gerais , e estes úl mos , à unanimidade , concordam que o Corpo de Bombeiros deve ser qualificado de tantos recursos humanos e materiais quantos forem necessários ( lembrando que o orçamento é idealizado pelo Execu vo e votado pelo Legisla vo – não é a Brigada Militar quem faz a distribuição dos ditos recursos ), entretanto permanecendo na estrutura da Brigada Militar .
Não bastasse o peso do entendimento desse qualificado e experiente colegiado , enxergo que sobejam mo vações à manutenção do status quo , senão por outra razão ao menos em homenagem ao princípio cons tucional da economicidade .
Coronel Paulo Roberto Mendes Rodrigues Coronel da Brigada Militar do RS