Detectives Selvagens 2- Medo | Page 96

Luísa rodrigues Considerava-se preenchido, mas precisamente naquele momento, debaixo da mesa de trabalho, um vazio tremendo invadiu-o. Se morresse naquele segundo, quem choraria por ele? O que ficaria de seu no mundo? Ao barulho de uns passos próximos de si, encolheu-se mais e quase deixou de respirar. As botas, tipo militar, percorreram rapidamente o caminho da porta até à mesa. Ouviu, entretanto, algo metálico pousar por cima de si. À sua frente umas calças pretas, masculinas. A voz, grave, que há minutos gritava, falou ternamente: - Ligaste-me amor? Só posso falar um minuto, estou cheio de trabalho. O escritório, hoje, está um caos. Sabes como é o meu chefe… sim… sim… fica descansada, eu vou buscar a Alice ao colégio. Tem um bom dia, amor. Amo-te muito. O homem desligou o telefone e saiu da sala, disparando freneticamente a sua arma. António deixou escapar um soluço. Pensou em como naquele momento gostava de acreditar em Deus, pedir-lhe que o poupasse à morte, que o deixasse viver mais uns anos. Nunca fora devotado à religião, apesar do fervor católico da sua mãe e das suas tias. Depois lembrou-se da sua colega Ana, mãe de dois filhos pequenos, com quem costumava almoçar e partilhar conversas. Percebeu que nutria um carinho especial por ela. Inconscientemente pediu a Deus que a protegesse daqueles 96