Pedro Miguel dias
Há um cheiro a ossos
Há um cheiro a ossos que paira no ar,
como se a morte viesse,
encavalitada numa nuvem púrpura de trovoada,
sorrindo o seu sorriso imundo cheio de dentes.
Há esse cheiro e um rumor seco de desalento.
E tudo sugere que a vida prosseguiu em outra parte,
que aqui somos só eu e esta paisagem interrompida;
observamo-nos um ao outro, como velhos conhecidos,
intuindo atrás do pouco que sabemos
o muito que fica por saber.
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