Detectives Selvagens 2- Medo | Page 87

Calma penada * É já depois das dezasseis e trinta que vejo, da esquina, a São a sair do café com o meu casaco na mão. Tento procurar algum sinal do envelope, perscruto as mãos, o casaco, a bolsa, não vejo o envelope mas reparo, finalmente, numa mão que acompanha a saída da porta do café: uma mão de mulher: a mão da minha patroa. Elas param e trocam algumas palavras, a São limpa os olhos, a Idália parece não tentar confortá-la minimamente. Despedem-se e é neste momento que ela lhe entrega o envelope. A São abre o envelope, é mais inteligente do que eu, não reage, coloca-o na mala e vira as costas e começa a caminhar: não caminha em direcção a casa, não caminha rumo ao meu escritório, não parece dirigir-se para casa da mãe, penso em interceptá-la, em exigir-lhe justificações, talvez ela tenha mais perguntas para me fazer neste momento, acabo por tentar acalmar-me e segui-la a alguma distância. * Parou, finalmente, junto a uma cabine telefónica. Insere um cartão e faz um telefonema, gesticula bastante, tira o envelope da mala e lê o conteúdo, parece gritar com a pessoa do outro lado até desligar abruptamente. Sem sair da cabine 87