João neves
Ora essa, deixe lá.
Afasto-me ligeiramente do balcão da entrada, observo-a pelo
canto do olho enquanto ela disca, desconfiada, os números e
aguarda a ligação.
Fernanda. Desculpa lá, está aqui um senhor para falar com
uma Conceição, sim, hm hm, pois, dá-me, dá-me um
segundo, por favor. Peço desculpa, queria falar com a
Conceição Cruz?
Claro.
Estou, Fernanda? Sim, era com a Conceição Cruz, sim, certo,
ok, percebo, ok, eu transmito, sim, café depois de almoço, eu
espero aqui, talvez tenhamos de esperar que o Júlio me
substitua, sabes como ele é meio atrasado, espera, o senhor
está a olhar para mim, deixa-me falar com ele, vá, até já, até
já.
Sim?
Pronto, falei com a minha colega, ela disse-me que a
Conceição já não trabalha connosco há dois meses.
O quê? Não pode ser…
Lamento, senhor, mas foi a informação que me deu a colega.
Não percebo… Peço desculpa, posso usar o seu telefone?
Hm, claro, claro…
Ligo para casa, dois quatro etc, etc, deixo tocar, desligo,
disco novamente, dois quatro etc, etc, nada.
Obrigado, peço desculpa pelo incómodo.
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