Detectives Selvagens 2- Medo | Page 55

Prolixa e nero moeda e uma vacinação para a exultação. Orestes confessoulhe que entregara o seu pouco dinheiro à Prolixa. A Prolixa estranhou que o homem que poucas horas antes partira enfiado numa saca, voltasse ao seu quarto fazendo-se acompanhar pelo homem que o enfiara na saca. Nero beijou-a e despiu-a e sentou-a na cama, ela fazia como ele queria, aceitava que lhe metesse a fronha pela cabeça e atasse os braços. Perguntava, enfronhada, se o amante, sócio e patrão tinha em mente alguma situação exótica, daquelas de carapuça, amor louco e lambuzadela. «Preta», afirmou Nero, «és feia como um rinoceronte mas tens um corpão de brasa e eu amo-te.» Nero abriu uma gaveta, tirou o dinheiro que lá estava e saiu do quarto, tendo regressado cerca de um quarto de hora depois, visivelmente alterado pelo efeito da droga. Pegou numa seringa, injectou a Prolixa e injectou-se. Orestes, mirone, assistia a tudo. Era o momento de partir e não voltar. Havia uma lição. Aquele não era o seu caminho. Por mais que se sentisse tentado a procurar a companhia de prostitutas, não cederia, lembrar-se-ia da Prolixa, de Nero, da heroína, da espuma a sair da boca de Nero, do edifício com paredes de tijolo por rebocar, dos adolescentes cravejados de brincos, pulseiras e haxixe, das ciganas, não regressaria ali e a lado nenhum onde não estivesse Sofia, e correu, correu, correu e correu. 55