paulo rodrigues ferreira
pelo vício, cavalo, branca pura limpa dentinhos, ciganas
vestidas de preto surro, de mão estendida, menino quer ler a
sina? Ai, que nuvem negra atrás de si, deixe-me clarear-lhe a
sina. Um agarrado à heroína publicitava, com um panfleto de
fabrico artesanal (desenhado a lápis num pedaço de cartão),
uma associação bairrista com fins não-lucrativos chamada
«Snifa & Snifa».
O quarto da prostituta apresentava uma decoração
minimalista, só não digna de um povo nórdico por juntar às
paredes brancas luzes vermelhas, quadros impressionistas
pintados pela própria, velas às dezenas e incensos. Longe de
simpática, a prostituta recebeu-o com um aperto de mão,
empurrou-o para a zona de «desinfestação», também
conhecida por casa de banho por indivíduos menos
familiarizados com o léxico da messalina. Retribuindo a
simpatia, Orestes agachou-se no bidé e afirmou estar pronto
para ser desinfestado por catedráticos dedos. A vergonha que
tantas vezes o bloqueava extinguia-se quando os seus
interlocutores eram prostitutas. As sessões com a doutora
Helena no bordel Paraíso Perdido tinham-lhe sido de imenso
proveito, sem elas não teria a mesma desenvoltura e não se
embostelaria tão graciosamente no bidé da meretriz. Helena
não o preparara porém para o resto: para viver sem
encolhimento e não mirrar (como se explosão, bunker,
bomba, quem me acode) caso alguém que não uma senhora
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