SÉRGIO MAK COSTA
anos terem passado também por ele, pouco mais mudou do
que alguns cabelos brancos e talvez algum cansaço na sua
expressão. Dizem-me, porque na realidade nunca o vi em
pessoa e as fotografias que me mostraram são todas elas
anteriores a 1987. Maria do Carmo não gosta das fotos que
tiram ao seu marido na Praça, diz que o transformam em
algo que ele não é, deixa de ser o Jorge, para passar a ser
uma figura de quem muitos falam mas pouco ou nadam
conhecem.
Da minha parte, fotografias à parte, confesso que estou
nervoso. Vim de muito longe, trazido por pesquisas na
Internet, teorias que ouvi na faculdade e até uma conversa
com um alemão que conheci numas férias em Colónia e que
me garantiu que, nos seus tempos de universitário, tinha
participado num estudo em Portugal sobre um homem que se
transformara em estátua. Numa dada noite, avançou-me ele
pelo meio de uns goles de cerveja, estava a regressar a casa de
mota quando, ao cruzar a praça tinha visto o homem estátua
a correr e que este olhara para ele com olhos completamente
vermelhos, assustando-o a ponto de ter perdido o controlo
da mota, tendo-se despistado.
Toda essa história e todo esse folclore me tinha trazido
até ali mas agora, sentado num café a 200 metros da praça,
as dúvidas assaltavam-me. Que faria eu ao chegar perto de
Jorge Bonifácio? Como seria a pessoa para além do mito?
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