Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 79

O HOMEM QUE UM DIA PAROU contornar autorizações para ver se era possível sacar dali algum medicamento milagroso. Ninguém chegou a resultados conclusivos e a Comissão das Festas de São Julião, não conseguindo tirar Jorge Bonifácio da praça, foi obrigada a improvisar, incorporandoo no evento. Assim, estreada nas festas de 1987, uma nova atracção teve lugar – Por apenas alguns trocos qualquer cidadão tinha duas tentativas para fazer Jorge Bonifácio, a estátua viva da Praça Simões dos Santos, sorrir. Se conseguisse, ganhava um jantar para dois na tasca do Roberto Pescador, que a organização não era parca nos prémios que atribuía e, mais do que uma tasca, o estabelecimento de Roberto Pescador era uma experiência gastronómica onde expressões como “gourmet” não passavam da porta de entrada. Contudo, no meio de bailaricos, carrinhos de choque e cheiro a sardinha assada, Jorge Bonifácio não se riu para ninguém, permitindo à Comissão angariar umas boas dezenas de contos à sua custa. Os meses passaram e, ainda antes do Inverno, chegaram os estudantes. Por essa altura, já as opiniões sobre o fenómeno Jorge Bonifácio se dividiam, para alguns aquilo era uma promessa, que a Lurdes coitadinha tinha tido uma infância carregada de maleitas, para outros era coisa do demo, que ninguém o via a comer nem ir à casa de banho e continuava igual ao dia em que tinha parado, nem sequer se 79