MONSANTO – TRÊS FRAGMENTOS
agora noutro canto do tecto, ali posta para filmar a janela e
vigiar as minhas visitas dos Animais do Bosque. Fiz-lhe um
pirete. Que se lixe o bom comportamento. Acrescentaram
uma extensão ao fio existente, composta de um grosso cabo
branco, deixado à mostra e mal preso no tecto. Tudo muito
feito à pressa, sem consideração nenhuma pelo inquilino.
Também não se deram ao trabalho de tapar os buracos
vazios de onde arrancaram os parafusos que fixavam o
suporte da câmara, nem de limpar a porcaria do pó e dos
pedaços de pedra e estuque que caíram quando perfuraram
os novos buracos com o berbequim... E o pó caiu mesmo em
cima da minha cama. Sacudi-a e sentei-me no cantinho da
meditação, abraçado aos joelhos, a chorar, à espera da sopa,
com a vaga esperança de que fosse caldo verde, era a única
sopa de jeito que nos davam e uma vez até me calhou uma
rodela de chouriço.
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