Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 58

LOURENÇO BRAY # A gaiola era um pequeno pátio, duas vezes maior do que a minha cela, com muros ocre, muito altos, tão altos que não deixavam ver nada a não ser céu enjaulado. O meu guarda tirou-me as algemas e soltou-me lá para dentro com um pontapé no cu porque fiquei com medo da claridade do sol reflectida no chão de pedra branca; aquilo nem parecia chão sólido e desconfiei que podia ser uma armadilha. Disseme que eu tinha uma hora e fechou o portão de ferro com um claque metálico. Uma hora para quê? Não me respondeu e deixou-me, sozinho, na minha gaiola. O pátio era ligeiramente côncavo de modo a que as gotas de chuva corressem para um ralo no centro, uma abertura circular coberta por uma tampa de ferro enferrujado. Examinei a tampa pois podia-se fugir por canos, já o vira em filmes. Mas o cano era demasiado estreito para que uma pessoa pudesse passar por ele e senti a desilusão que assombrava a gaiola desde que o primeiro de muitos reclusos a sentira antes de mim. Então olhei para cima, para o céu por trás das grades da gaiola. Pequenos farrapos de nuvens no azul e o sol, violento. Muito bonito. Quem me der saber voar, pensei. Em todo o caso, ali não me serviria de muito por causa das grades... Porque teriam posto grades por cima do pátio? Os muros tinham cerca de quatro 58 metros de altura,