Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 55

MONSANTO – TRÊS FRAGMENTOS ─ Está bem, eu salvo o Bosque ─ respondi-lhe, o que o fez largar as grades para bater patinhas de contentamento e, em consequência, cair do parapeito da janela, de costas, para fora do meu campo de visão. Instantes depois ouvi o "tump" abafado do seu corpo roliço a bater no chão. Voltou rapidamente aparecer-me à janela, era um excelente trepador. Não se tinha magoado, mas os olhos um pouco estrábicos pareciam indicar que as consequências da queda ainda se faziam sentir. ─ O Urso Rezingão tem um plano para te tirar daqui! Vais ver! ─ sorriu com a língua de fora. ─ De entre todos os animais do Bosque Encantado, ser o Urso Rezingão a lembrar-se de um plano, não é bom sinal ─ respondi, naturalmente desconfiado, uma vez que o Urso Rezingão não primava pela inteligência. ─ Não, não, até a Coruja Sábia gostou plano. Confia em nós! Agarrou-me a cara com as patas, puxou-me e deu-me um beijo por entre as grades. Sentia-lhe o hálito quente e a cheira a lixo a bafejar-me e repeli-o. Ouvimos o tilintar do pesado molho de chaves a aproximar-se da porta da cela. ─ Depressa, vai! O guaxinim desapareceu e eu fiz-me osga na parede onde o sol batia. O guarda Neves entrou na cela. Com as algemas firmemente trancadas em torno dos meus pulsos, 55