MONSANTO – TRÊS FRAGMENTOS
─ Está bem, eu salvo o Bosque ─ respondi-lhe, o que o
fez largar as grades para bater patinhas de contentamento e,
em consequência, cair do parapeito da janela, de costas, para
fora do meu campo de visão. Instantes depois ouvi o "tump"
abafado do seu corpo roliço a bater no chão. Voltou
rapidamente aparecer-me à janela, era um excelente
trepador. Não se tinha magoado, mas os olhos um pouco
estrábicos pareciam indicar que as consequências da queda
ainda se faziam sentir.
─ O Urso Rezingão tem um plano para te tirar daqui!
Vais ver! ─ sorriu com a língua de fora.
─ De entre todos os animais do Bosque Encantado, ser
o Urso Rezingão a lembrar-se de um plano, não é bom sinal
─ respondi, naturalmente desconfiado, uma vez que o Urso
Rezingão não primava pela inteligência.
─ Não, não, até a Coruja Sábia gostou plano. Confia
em nós!
Agarrou-me a cara com as patas, puxou-me e deu-me
um beijo por entre as grades. Sentia-lhe o hálito quente e a
cheira a lixo a bafejar-me e repeli-o. Ouvimos o tilintar do
pesado molho de chaves a aproximar-se da porta da cela.
─ Depressa, vai!
O guaxinim desapareceu e eu fiz-me osga na parede
onde o sol batia. O guarda Neves entrou na cela. Com as
algemas firmemente trancadas em torno dos meus pulsos,
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