Detectives Selvagens 0 - Julho 2014 | Page 39

A AUSÊNCIA É UM REVÓLVER CARREGADO uns colegas, fazer um trabalho de grupo, jogar à bola, o normal, a mãe de um deles vinha pôr-me em casa ao fim da tarde. Cheguei e não estava ninguém. Bati muitas vezes. A vizinha abriu e mandou-me entrar: acho que já estava à espera que eu chegasse. Tinham ido todos ao hospital contigo: tinhas sentido-te mal durante a tarde, não quiseste saber e ainda gritaste com quem se preocupava, o Bruno não gosta de falar nisso, diz que te ouviu cair. Não voltaste a abrir os olhos nem a falar. Ele não se lembra das últimas palavras que te disse. Eu também não, nem sequer das últimas que te ouvi dizer. Aquele murmúrio, para mim, contém todos os segredos da existência. É tudo o que eu quiser que seja, tudo o que tiver que ser. 39