A AUSÊNCIA É UM REVÓLVER CARREGADO
uns colegas, fazer um trabalho de grupo, jogar à bola, o
normal, a mãe de um deles vinha pôr-me em casa ao fim da
tarde. Cheguei e não estava ninguém. Bati muitas vezes. A
vizinha abriu e mandou-me entrar: acho que já estava à
espera que eu chegasse. Tinham ido todos ao hospital
contigo: tinhas sentido-te mal durante a tarde, não quiseste
saber e ainda gritaste com quem se preocupava, o Bruno não
gosta de falar nisso, diz que te ouviu cair. Não voltaste a
abrir os olhos nem a falar. Ele não se lembra das últimas
palavras que te disse. Eu também não, nem sequer das
últimas que te ouvi dizer. Aquele murmúrio, para mim,
contém todos os segredos da existência. É tudo o que eu
quiser que seja, tudo o que tiver que ser.
39