O ELOGIO DAS PESSOAS SIMPLES
lágrimas. As pessoas não simples não se permitem viver com
simplicidade.
Realizam-se
nas
convenções
sociais
e
profissionais e, não raras vezes, acreditam que são felizes.
Perderam o jeito simples e o mundo intrincado que os
suporta também os alimenta. Mas não se conseguem rir com
espontaneidade. Muito menos chorar. Não são simples.
Incapazes de largar as correias que abraçaram aos
poucos, sem dar por isso, as pessoas que um dia foram
simples ambicionam ser o que não são. Querem pertencer a
um grupo, a uma elite ou a uma classe e, despojadas da
simplicidade, usam de artifícios que lhes foram ensinados
desde tenra idade ou que aprenderam por meios próprios,
através de observação ou imitação. Sem se aperceberem,
desembaraçam-se do jeito genuíno, da autenticidade e da
personalidade vincada e bem definida para se enquadrarem
num ideal que constroem, sozinhos ou em conjunto com
outras pessoas que também já não são simples. Apoiam-se
mutuamente, os que deixaram a simplicidade de lado, e isso
dá-lhes força para continuar. Despidos do que são, aquecemse com a cumplicidade dos que, como eles, também vagueiam
na busca do que perderam. Até ao dia em que, sem dar por
isso, elogiam as pessoas simples.
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