Desfazer as confusões pd52 | Page 94

Assim, hoje, nossas cidades têm metade de suas moradias na precariedade, grande parte insalubre. Falta saneamento adequado para metade do Brasil urbano. Para se deslocar, metade da popu- lação sofre em transporte inaceitável. Nas grandes cidades, como o Rio, talvez metade de seu território esteja controlado por bandi- dos. Nosso esforço precisa ser para incluir essas metades do país nas exigências do século XXI. A questão é complexa, não há solução única. Mas há experiên- cias exitosas, aqui e ali, que sinalizam possibilidades – havendo interesse, continuidade e competência. Vale elencar algumas delas. 1 – Para superar a precariedade e a insalubridade de 30 milhões de moradias existentes, gigantesco patrimônio das famílias pobres, uma resposta é a “assistência técnica”. Com pequeno crédito à família e assessoria profissional, reformam-se as moradias, como faz hoje, de modo exemplar, o Governo do Distrito Federal. 2 – Para enfrentar o déficit urbanístico de loteamentos popu- lares e favelas consolidadas, há os bons exemplos do programa Favela-Bairro, no Rio, e Guarapiranga, em São Paulo. Depois, em Medellín, Colômbia. Eles mostram a potencialidade em criação de empregos, inserção social e redução da violência urbana. 3 – O Brasil construirá, necessariamente, 40 milhões de domi- cílios nesta geração. Sem nova política, serão irregulares e precá- rios. Uma resposta adequada é o crédito desburocratizado para a família, conforme suas condições. Ela decide: constrói em lugar legalizado ou compra no mercado imobiliário. No Rio, o PreviRio teve ótimo programa de financiamento para funcionários da prefei- tura. A Caixa teve incipiente programa no final dos anos 1990. 4 – O financiamento para as empresas empreenderem é essen- cial. Porém, não pode ser “financiamento” com demanda garan- tida, como é regra no MCMV para as rendas baixas. Assim, não é empreender, mas negócio entre governo e empreiteira, sem a deci- são do interessado final, com resultados funestos. O novo presidente da República, os novos congressistas na Câmara e no Senado e os novos governadores, sejam eles quem forem, o desafio permanece. Não há mágica. Incluir a metade da cidade à cidade brasileira é o caminho democrático e do desenvolvimento. 92 Sergio Magalhães