Desfazer as confusões pd52 | Page 92

A Política Nacional sobre Álcool está correta quando se orienta para desestimular o consumo, através de advertências e campa- nhas de educação e informação, e para a redução de danos, “bem como das situações de violência e criminalidade associadas ao uso prejudicial de bebidas alcoólicas” (Ministério da Justiça). Neste caso, em vez de criminalizar o consumo de álcool, com todos os desdobramentos negativos analisados antes e que ainda requer a montagem de uma estrutura de repressão de compro- vada ineficácia, define um rigoroso sistema punitivo para os danos sociais provocados por pessoas sob o efeito do álcool. O mesmo não poderia ser pensado para algumas das drogas atualmente ilícitas e de dano social menor que o álcool: não proi- bir a produção e o consumo, mas definir regras e punições rigoro- sas para eventuais crimes provocados por estado de excitação, desvio de conduta e alteração de consciência dos usuários? Evitar a criminalização do usuário e tratar o adicto como um problema de saúde pública, o que tornariam desnecessárias as “ações contí- nuas de repressão, que devem ser promovidas para reduzir a oferta das drogas ilegais e/ou de abuso, pela erradicação e apreen- são permanentes destas produzidas no país, pelo bloqueio do ingresso das oriundas do exterior, destinadas ao consumo interno ou ao mercado internacional e pela identificação e desmantela- mento das organizações criminosas”, previstas na Política Nacio- nal das Drogas (Ministério da Justiça). É mais fácil antecipar os prováveis resultados desastrosos de eventual e improvável criminalização do consumo de álcool que prever as consequências de uma descriminalização das drogas atualmente ilícitas, porque o crime organizado já domina o negó- cio e se utiliza da violência para controlar o mercado. Mas tudo indica que o Brasil vive hoje as consequências desastrosas da criminalização dessas drogas – mercado negro, crime organizado, violência e desmoralização do Estado – que, ao contrário do que se pretendia, tem sido acompanhada do aumento do consumo. 90 Sérgio C. Buarque