Desfazer as confusões pd52 | Page 53

de processos de urbanização, educação, etc, levando a mais deman- das, maior clareza de objetivos e busca de representação de inte- resses por parte de movimentos de emergentes grupos sociais. A política de cooptação, segue Schwartzman, centrada nessa nova dimensão, volta-se ao controle/manipulação das formas emergentes, em oposição a uma política de representação. O que se impõe não é um processo desde baixo, via demandas crescentes de participação, mas uma radicalização a partir de cima, fomentada por lideranças e partidos que já cogitavam a possibilidade de se desamarrarem do estado de compromisso e usavam as massas para manobrarem nessa direção. Conforme o autor, era possível vislumbrar ali, dentre outras possibilidades, também o espectro de fascismo. Ele derivaria, por hipótese, da conjunção, conjuntural e sem solução à vista, de uma mobilização induzida por cooptação e uma participação espontânea. Jogadores pressionavam por repre- sentação mas no jogo predominavam habilidades e recursos do sistema de cooptação sobre a capacidade de organização autônoma. A disputa intra elites teria assim transbordado os limites do compromisso dentro do sistema político, que entra em paralisia. A solução seria dada por quem detinha o controle do sistema de cooptação, ou por quem o pudesse desmontar pela coerção, como ocorreu. E não seria mais possível apenas repetir 37. Para reprimir a sociedade que se movimentava, a opção autoritária teria de ir mais longe, contingência que dava lugar ao espectro. Mas São Paulo, como já dito, seria exceção. Ali a germinação limitada de uma política de representação assumia três formas: ideologias liberais intransigentes; movimentos sindicais de cunho “trade unionista”; movimentos populistas carismáticos com pouca estrutura e autonomia nas bases e pouco controle e manipulação de cima, como o janismo. Era limitada a experiência pela ausên- cia de partidos representativos bem estruturados, capazes de mediar interesses regionalmente e estender/ampliar o processo até o nível nacional. Então a “normalidade política” em São Paulo significava, no caso dos setores mais privilegiados, representação fraca, apatia e marginalidade política. No dos setores de baixo, radicalismo caris- mático ou esquerdismo independente. Em contextos de instabili- dade do arranjo político nacional (como em 64) aumentava a parti- cipação via ideologias da lei e da ordem e/ou de um liberalismo antipolítico que via como corrupta e ineficiente a interferência governamental na sociedade. Era esse o caldo de cultura do janismo A gramática da política contra o pathos profético 51