de processos de urbanização, educação, etc, levando a mais deman-
das, maior clareza de objetivos e busca de representação de inte-
resses por parte de movimentos de emergentes grupos sociais.
A política de cooptação, segue Schwartzman, centrada nessa
nova dimensão, volta-se ao controle/manipulação das formas
emergentes, em oposição a uma política de representação. O que se
impõe não é um processo desde baixo, via demandas crescentes de
participação, mas uma radicalização a partir de cima, fomentada
por lideranças e partidos que já cogitavam a possibilidade de se
desamarrarem do estado de compromisso e usavam as massas
para manobrarem nessa direção. Conforme o autor, era possível
vislumbrar ali, dentre outras possibilidades, também o espectro de
fascismo. Ele derivaria, por hipótese, da conjunção, conjuntural e
sem solução à vista, de uma mobilização induzida por cooptação e
uma participação espontânea. Jogadores pressionavam por repre-
sentação mas no jogo predominavam habilidades e recursos do
sistema de cooptação sobre a capacidade de organização autônoma.
A disputa intra elites teria assim transbordado os limites do
compromisso dentro do sistema político, que entra em paralisia.
A solução seria dada por quem detinha o controle do sistema de
cooptação, ou por quem o pudesse desmontar pela coerção, como
ocorreu. E não seria mais possível apenas repetir 37. Para reprimir
a sociedade que se movimentava, a opção autoritária teria de ir
mais longe, contingência que dava lugar ao espectro.
Mas São Paulo, como já dito, seria exceção. Ali a germinação
limitada de uma política de representação assumia três formas:
ideologias liberais intransigentes; movimentos sindicais de cunho
“trade unionista”; movimentos populistas carismáticos com pouca
estrutura e autonomia nas bases e pouco controle e manipulação
de cima, como o janismo. Era limitada a experiência pela ausên-
cia de partidos representativos bem estruturados, capazes de
mediar interesses regionalmente e estender/ampliar o processo
até o nível nacional.
Então a “normalidade política” em São Paulo significava, no
caso dos setores mais privilegiados, representação fraca, apatia e
marginalidade política. No dos setores de baixo, radicalismo caris-
mático ou esquerdismo independente. Em contextos de instabili-
dade do arranjo político nacional (como em 64) aumentava a parti-
cipação via ideologias da lei e da ordem e/ou de um liberalismo
antipolítico que via como corrupta e ineficiente a interferência
governamental na sociedade. Era esse o caldo de cultura do janismo
A gramática da política contra o pathos profético
51