A comunicação do movimento eram os pôsteres impressos em
serigrafia, as pichações, faixas e cartazes de mão… E os coquetéis
molotov. Era um movimento de manada conduzido pelo espírito da
ruptura. Havia, também, uma grande confusão sobre o que de fato
era e o que viria a ser. O conteúdo desses dois slogans são exem-
plares, nesse sentido: Não há pensamento revolucionário, apenas
ações revolucionárias – que faria tremer os ideólogos da “revolução”
– e, esse mais terrível, Eu tenho algo a dizer, mas não sei o quê.
A greve geral de maio de 1968, na França, ganhou ares de revo-
lução, principalmente, porque foi potencializada pela greve dos
estudantes secundaristas e universitários. Na verdade, acendia-se
ali um pavio que se espraiaria pela Europa e pelas Américas.
“Dez mil estudantes franceses lutam contra dois mil policiais”,
abre o Jornal do Brasil em manchete de primeira página, na sua
edição de 7 de maio de 1968.
Os protestos contra o fechamento da Universidade Sorbonne e
a prisão de estudantes provocaram uma violência sem preceden-
tes na história das manifestações de rua em Paris quando 10 mil
estudantes e professores, no Quartier Latin, enfrentaram 2.000
policiais, até altas horas.
Paralelepípedos e pequenos objetos de toda ordem, inclusive
latas de lixo, eram as armas de estudantes e professores. Nem os
carros-tanques nem as bombas de gás lacrimogêneo conseguiram
deter os manifestantes. O próprio chefe de polícia de Paris decla-
rou à imprensa, admitindo nunca ter visto tanta violência. Era só
o começo de um movimento que mudou o mundo.
Um dos líderes do movimento, o alemão naturalizado francês
Daniel Cohn-Bendit, aluno da Universidade de Nanterre, a 32
quilômetros de Paris, exercia um claro fascínio sobre as pessoas:
ele estava sempre sorrindo, ao contrário dos seus colegas.
Em Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991, o autor
Eric Hobsbawm demonstra porque o radicalismo estudantil em
1968 pegou todo mundo de surpresa:
[...] a política das “economias de mercado desenvolvidas” parecia
tranquila, senão sonolenta. Que havia de excitante, a não ser o
Comunismo, os perigos de guerra nuclear e as crises internas
que as atividades imperiais no exterior traziam, como a aven-
tura de Suez de 1956, na Grã-Bretanha; a Guerra da Argélia, na
França (1954-61); e, depois de 1965, a Guerra do Vietnã, nos
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Luis-Sérgio Santos