Date a Home Magazine | Mar / Abr 2014 | Page 43

e é a casa-filha porque colada à minha, está a casa-mãe onde vivem os pilares da minha vida, que são a minha mãe e o meu pai. Nunca consegui cortar o cordão umbilical e penso que esta casa é família e isso sente-se a cada momento, somos unidos, cada um de nós tem a sua história e o local onde vivemos reflete de forma natural aquilo que so-mos: uma família simples, numerosa, barulhenta e que se ama profundamente.

E o que faz uma alfacinha no Monte do Estoril?

Somos de Lisboa, é verdade, alfacinhas de gema e esta vivenda era a casa das férias grandes como se dizia no meu tempo. Vínhamos todos os verões para aqui com os meus pais e só regressávamos a Lisboa para ir à escola. Um dia decidimos que queríamos ficar e fomos ficando aos poucos. Eu mudo-me definitivamente depois do casamento com o Fernando, que nasceu e cresceu na zona da Linha e trabalha no Hospital de Cascais. No fundo, a família acaba por estar toda no Monte do Estoril e isso levou-me a fazer esta escolha.

Mas não ficam saudades de Lisboa?

Nenhumas! Apesar de ter crescido em Lisboa, de gostar imenso da vida urbana e de ter excelentes memórias da minha infância, os dias aqui são tão

mais simples, tudo é mais próximo, não existe aquele trânsito infernal de Lisboa, a vida é mais calma e eu sinto-me uma mulher mais prática. De manhã vou de fato de treino para todo o lado (risos). Depois a proximidade com o mar é funda-mental, tanto o Fernando como eu gostamos de sol e praia e aqui podes estar em casa e ir ver o mar em menos de cinco minutos ou mesmo que venha de Lisboa sinto logo este cheiro a verde e a mar. Adoro viver no Monte do Estoril mas mantenho a minha casa de Lisboa e fico lá quando tenho algum evento social ou familiar.

Lisboa e Monte do Estoril é o melhor de dois mun-dos?

Sim, acaba por ser. Tenho a sorte de poder viver nestes dois locais diferentes e sentir o lado urba-no de Lisboa e a calma e paz da Linha.

A determinada altura optou por ficar em casa e dedicar-se a esta família numerosa, são cinco filhos e acaba por viver muito o espaço casa na sua verdadeira aceção.

Vivo! Não sinto cansaço nenhum por estar em casa e passo muito tempo dentro destas paredes. Ado-ro passar tempo aqui e sinto-me uma doméstica assumida, faço de tudo. Mas sou filha de uma decoradora e isso fez-me crescer com com aquela

Entrevista | Arrendar A Linha Com Paixão | REGIÕES

relação especial com o espaço onde vivemos mas não tenho grande sentido estético. Recordo-me que na casa da minha mãe mudava-se de decoração de seis em seis meses mas se me derem um espaço vazio não sei o que fazer com ele. A minha casa está sempre igual, raramente faço alterações e o que coloco numa prateleira por lá fica anos seguidos. Acho que isso torna o espaço especial e repleto de vivências.

O que ganhou ou perdeu por ficar em casa?

Não se perdeu nada. Ficar em casa não é sinónimo de não ter vida própria e tenho os meus projectos e os meus dias preenchidos. Não tenho um minuto de descanso, faço aquilo que gosto e tenho tempo para o que realmente me interessa. O único exem-plo que posso dar e que consigo imaginar é que talvez enveredasse por uma carreira artística porque sempre gostei do palco, das luzes e sinto que tenho imenso para dar. Mas optei por me deixar “sugar” pelos meus filhos e como é mais importante estar sempre disponível para a minha família sinto-me um pouco como uma voluntária daí nunca ter aceite nenhum trabalho que pusesse isso em causa. Aliás, assim que me faziam uma proposta profissional pensava de imediato no pânico que seria se acontecesse alguma coisa e eu não pudesse estar presente. Foi um caminho que escolhi e acredito que o escolhi muito bem.

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