Date a Home Magazine | Mai / Jun 2014 | Page 55

relação à Santini o que nos obriga a ter um cuidado imenso com aquilo que fazemos e com a forma como o fazemos. Ainda hoje seguimos as receitas e sabores que acompanham a marca desde o seu começo.

É quase como se o apelido deixasse de o ser e se transformasse num alter-ego?

Nós tínhamos um quadro com o meu nome na loja e um miúdo, que devia ter uns seis anos ou sete anos, leu-o e disse para a mãe “este senhor tem nome de gelado”, portanto, já não é o meu nome é um produto. O meu nome é uma marca, já não é apenas um apelido.

Para si, continuar o negócio de família foi um acaso ou destino?

Eu acho que acaba por estar escrito, por ser destino. Vivendo a tradição de forma tão intensa, basta contar que o primeiro sítio onde fui quando saí da maternidade foi à loja de Cascais e a primeira coisa que provei (quase) foi gelado. Estas vivências acabam por criar raízes e ficar dentro de nós e foi algo muito natural.

E aprendeu a fazer gelados?

Sim, aprendi a fazer os gelados. Acompanhei des-de muito cedo o meu avô e o meu pai na loja, e nes

neste momento, sou eu que faço os gelados e sou responsável por toda a produção.

Foi uma tarefa fácil?

Foi! Não é algo que se queira aprender, é algo que se vai aprendendo e que nasce connosco também. É preciso ter jeito, ter talento, faz-se com o cora-ção e quando isso acontece tudo se torna mais fácil.

E qual foi o gelado ou sabor que aprendeu em primeiro?

O primeiro gelado que inventei foi um de limão com bocadinhos de chocolate porque nós tínha-mos um gelado de nata com bocados de chocolate e eu não gosto de nata, é um trauma de infância, mas observava as pessoas a comerem e pensava que deveria ser bom. Então agarrei no limão e juntei-lhe o chocolate e ainda hoje vendemos gelado de limão com fios de chocolate.

Qualquer alimento pode ser transformado em gelado?

Não. Não sou adepto daqueles gelados de sardi-nha e bacalhau como muitas pessoas falam. Não acho que os gelados devam ser só doces porque também temos alguns gelados salgados, com queijo e atrevemo-nos a experimentar outros sa-

bores. Temos uma ligação forte com a doçaria conventual e criamos alguns como de pão de ló e outras sobremesas. Como disse, temos os gelados de queijo, como gorgonzola e requeijão mas não nos atrevemos a ir mais longe. Tem de ser algo muito bem pensado e estruturado.

O que pode falhar num sabor mal escolhido?

Desde a textura, a cremosidade, ao fato de ser doce em excesso ou muito amargo. Tem de ser bem estu-dado e compensado porque ainda há que colocar o açúcar na quantidade certa para a textura ser a melhor de forma a que o sabor não se altere. Há um trabalho muito grande e minucioso na hora de testarmos ou avançarmos com um novo sabor.

Mas afinal qual é o segredo do sucesso já que a Santini é considerada a melhor marca de gelados do mundo?

Para mim são vinte anos a pensar naquilo que fazemos e no fundo não fazemos nada demais. Limitamo-nos a cumprir aquilo que o meu avô dizia, é tudo muito simples e natural. Na conceção dos gelados não usamos nem essências, nem aromas, nem conservantes ou qualquer aditivo. Usamos as matérias primas mais frescas, o melhor leite (Vigor), a melhor nata, as melhores frutas. Penso que é esse o segredo, é isso que as pessoas sentem quando experimentam um dos nossos gelados e conse-guem encontrar aquele sabor de quando o experi-

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