Date a Home Magazine | Mai / Jun 2014 | Page 155

O clique deu-se no momento em que se cruzou com a notícia de que o repórter fotográfico Daniel Rodrigues, vencedor de uma das categorias do World Press Photo, um dos mais importantes con-cursos mundiais de fotojornalismo, estava desem-pregado e sem dinheiro para fazer face às despesas do quotidiano, razão pela qual teve de vender a máquina fotográfica. Sandra Nobre, à época colabo-radora de várias revistas e suplementos de jornais na área de viagens e estilo de vida, sabia bem que o futuro era incerto. Aquela notícia foi decisiva para algo em que matutava há algum tempo, a criação de um projeto próprio. Abriu a gaveta das ideias, pensou na época do ano em que estava, muito pró-xima do Dia dos Namorados, e sem pensar muito mais, escolheu a via das histórias de amor. Fez o seu primeiro flyer digital num programa de computador à prova de ineptos em design gráfico. Com uma foto-grafia padronizada de Romeu e Julieta, num ápice, lançou as Short Stories no facebook. Nesse dia teve a primeira solicitação. “Bem, agora é sério”, pensou. Impunha-se uma ação diligente, pois já conseguira uma primeira encomenda, mas ainda não definira o formato exato dos livros, o papel, as cores, o preço. “Queria uma imagem sóbria, passível de agradar a uma faixa etária ampla”, delineou. Recorreu a ami-gos, a amigos de amigos e encontrou os parceiros certos. O fornecedor de papéis Fedrigoni, também usados por marcas de moda internacionais nas suas embalagens, o encadernador e o dourador, que já trabalhavam juntos e com quem Sandra partilha atualmente o espaço de trabalho, depois de ter de-cidido deixar de escrever em casa.

“Nas Short Stories juntei o prazer de escrever à pai-xão pelos livros e ao gosto pelas histórias de vida. Quando escrevia perfis de pessoas para o jornal Sol cheguei a receber cartas de agradecimento, de figuras públicas, habituadas a entrevistas, que con-tribuíram para acreditar que este projeto iria resul-tar. Lembro-me, por exemplo de um comentário do ator João Perry que me deixou sem reação e a cho-rar em plena redação”, confidencia.

Os livros têm uma média de 20 páginas e o preço base é de €250. “Tive de determinar limites, caso contrário não seriam pequenas histórias, seriam biografias. Às vezes as pessoas não entendem que há aqui mão-de-obra artesanal e materiais de quali-dade. Uma coisa é produzir um livro em massa, para expositores de supermercado, outra é manufaturar um único livro de cada vez”.

O estilo e forma de escrita de Sandra Nobre, versão pequena contadora de histórias, não se encaixa em classificações comuns, dado que bebe das palavras dos seus interlocutores e a elas se adapta. O estilo é aquele que ela intui em quem a contacta, sendo que o cliente não pode rever o texto ou solicitar alterações de estilo. “Têm de confiar em mim e na minha versão da história”, afirma, admitindo que essa é - tal como a técnica que lhe permite, através de uma conversa de uma hora ou duas, recolher a informação essencial para criar a narrativa - uma herança jornalística. ”Em 19 anos de jornalismo também percebo que, por vezes, as pessoas não estão à vontade para se exporem ou estar face-a-face com um entrevistador, daí trocarmos muitos mails, nos quais elas têm todo o tempo do mundo, sem se preocuparem com o português, para respon-der.

Uma das histórias de amor que mais a cativou foi desencadeada em Moçambique há 27 anos. Os ena-morados tinham uma pequena diferença de idades,

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"Pretendo que as

histórias sejam

momentos de

partilha."