Date a Home Magazine | Jul / Ago / Set 2014 | Page 84

REGIÕES | Arrendar Algarve Com Paixão | Entrevista

84

Isabel Cebola nasceu em terras alentejanas mas cedo partiu para enfrentar as aventuras da vida. De alma budista encara a vida como uma oportunida-de para ajudar quem mais precisa. Com um coração do tamanho do mundo decidiu abraçar uma das causas mais importantes em terras algarvias, o Centro de Apoio ao Sem-Abrigo (CASA), e dar a mão a um vasto leque de pessoas com as mais diversas carências. Adepta de reiki e amante da cozinha vegetariana considera que tudo na vida tem que ser feito com muito amor.

Quem é a Isabel Cebola? Como se define?

A Isabel Cebola tem 52 anos, trabalha desde os dezanove anos, é casada e tem um filho. A nível profissional gosta do que faz, gosta de ajudar os outros e é amiga do seu amigo. Há cerca de uma década, “abraçou uma causa” que ama incondicio-nalmente, isto é, vestir uma camisola, ajudar quem mais precisa.

De origens alentejanas, cedo decidiu partir para terras alfacinhas. Como é que chega ao Algarve?

Sim, é verdade! Alentejana, nasci em Beja, onde passei a minha infância e adolescência até decidir ir estudar para Lisboa. Dadas as circunstâncias proporcionadas naqueles tempos, estudava de dia e à noite trabalhava. Ao fim de alguns anos na capi-tal, derivado a questões familiares tracei o meu novo rumo. Casada com um algarvio, chegou a altura de dar a volta e regressar às bases, «Vamos para o Algarve!»

ENTREVISTA de: carolina nunes

palavras de: isabel cebola

imagens CEDIDAS PELO: C.A.S.A

ISABEL CEBOLA

Diretora do Centro de Apoio aos Sem-Abrigo (CASA)

novo rumo. Casada com um algarvio, chegou a altura de dar a volta e regressar às bases, «Vamos para o Algarve!»

O budismo é encarado como a quarta religião depois do Cristianismo e um dos fenómenos mais antigos do mundo. A Isabel é budista, o que a levou a esco-lher esta filosofia de vida?

A Isabel como quase todas as crianças portuguesas foi batizada, andou na catequese, no coro da Igreja do Carmo, em Beja e casou pela Igreja. Cheguei a ir a Fátima cantar com o coro e tudo mas entretanto a minha ida para Lisboa trouxe novos “mundos”. A par-tir da minha convivência com conhecidos e amigos despertou-me a curiosidade em saber «Porque é que sou católica?(…..)todos somos!» No entanto, comecei a pensar que talvez houvesse algo que me permitisse pensar por mim pois queria acabar com a ideia «Cató-lica só porque os outros o são?». Na altura, já conhe-cia pessoas que pensavam da mesma forma e é aí que descubro o Budismo. Este permite-nos pensar por nós próprios, ir à causa das coisas e ver na realidade o porquê de respeitar os outros, o porquê de se estar bem ou mal. Há que questionar e saber as razões. Não é fácil mas foi isso que bateu cá dentro.

Um dos factos mais notórios no seu percurso foram as várias viagens para a Índia e para o Nepal. Aí, jun-tamente com o seu marido, fez trabalho de volunta-riado com monges budistas e distribuiu roupas e comida pelas ruas. Foi a partir destas aventura que surgiu o “bichinho” pelo voluntariado?

Sem sombra de dúvida! O meu marido foi o primeiro a embarcar para a India e para o Nepal onde aprendeu os ensinamentos no Mosteiro Branco, em Kathman-du, com o nosso Mestre, Chocki Nyma Rimpoche. O Mestre é uma pessoa muito especial, não se consegue descrever só vivenciando. Posteriormente fui eu.

Organizámos algumas viagens de grupo à India (não comerciais porque isso qualquer agência faz mas para andar, como se costuma dizer, a “chafurdar” na base e nos problemas). As nossas viagens eram do género, íamos um grupo de quinze pessoas e cada uma levava uma mala com roupa para dar, o que preci-sássemos comprávamos lá. Viajámos de autocarro por Varanasi e Bodghaia, durante horas e horas, noi-tes perdidas, chegámos até a ser sequestrados no caminho, enfrentámos cheias e ainda apanhámos a altura das monções. De mochila às costas, vestíamos crianças com as roupas que trazíamos connosco. À noite distribuíamos comida a quem pura e simples-mente não come. No caminho comíamos e trazíamos a comida que sobrava em sacos plásticos para depois distribuir.