Date a Home Magazine | Jul / Ago / Set 2014 | Page 77

Sendo a Cuca uma “filha" da Linha, imagina-se a viver noutro lugar?

Gosto muito de Lisboa mas só à noite, de dia sinto uma energia e um peso que não estou habituada aqui, as pessoas que moram na linha vivem no meio da natureza. Demoro 3 minutos a chegar à praia, faço desporto no paredão em frente ao mar, tenho o Guincho a poucos minutos, o meu templo, é onde componho, faço desporto, é uma explosão da natureza... mar, montanha. Não, não me imagino a viver noutro sítio porque não me sentiria feliz e em paz. Este sítio dá-me equilíbrio e com as via-gens que um fadista tem de fazer pelo mundo, quando chego, só me apetece ir para um lugar onde possa descansar. A Linha é esse lugar.

Existe algum cantinho mágico na Linha que a inspire?

Como já referi, o Guincho é o meu cantinho mágico, estou lá o ano inteiro, verão e inverno, costumo ir ao bar do Guincho e fico a escrever e a compor. Mas tenho vários refúgios, em primeiro lugar o Taekwondo (cinturão negro!!) e o Ballet, são 2 desportos que faço já há muitos anos e que têm um lado muito espiritual e que me dão imenso equilíbrio. A minha casa é outro refúgio, adoro estar em casa sozinha a tocar piano, a pintar e a ler, são prazeres que pratico só para mim, não quero mostrar a ninguém, e que me permitem criar sem pressão.

Como foi a sua infância na Linha, que sítios guarda no seu coração?

Centro de Cascais, é mágico, uma aldeia cheia de barquinhos, a Garret no Estoril, de longe a melhor pastelaria do mundo inteiro, quando vou para fora fico a sonhar com Garret. O paredão, é uma mais valia gigante que nós temos, dá sempre para socializar em frente ao mar, a esplanada de São Pedro, a minha praia quando não está bom no Guincho e a Praia Grande que adoro.

Vem de uma família numerosa, sem anteceden-tes fadistas, como foi encarada esta descoberta na família, são os seus maiores fãs?

Foi estranho, costumo contar aos meus amigos e pessoas mais próximas, que quando era pequena, as minhas irmãs “gozavam” imenso comigo, por-que eu adorava ouvir músicas populares, ouvia Vitorino e ninguém percebia este meu gosto, nem eu percebia mas sabia que gostava. Os meus pais só ouviam música clássica, ópera e musicais, nós crescemos muito com musicais, My Fair Lady,

Música no Coração... E eu tinha um interesse pela música popular que só mais tarde é que percebi porquê, só hoje é que digo que nasci mesmo para ser fadista, a minha infância não me levava para lá, eu não nasci num bairro, eu nunca ouvi fado, só ouvi fado pela primeira vez aos 18 anos, e tive logo uma paixão, na altura cantava com os toranja e não era de todo feliz a cantar e só mesmo com o fado deixaria outra área qualquer e me poderia dedicar de corpo e alma. É quase como se o fado me cha-masse a mim, como se fosse um destino.

Como é que sente “esse” fado?

Existe muito o preconceito que o fado é triste mas esta nova geração que trouxe um fado mais român-tico, eu acho que o fado é romântico, fala sobre sentimento, o fado é verdadeiro. O fado conta uma história, e quando alguém conta uma história tem que entrar completamente na pele dessa história. O fado não é plástico, é a sua própria verdade, e quando se vai falar de um sentimento, seja de amor ou perda, uma pessoa tem mesmo de entrar nessa historia. O fado é serio! E por isso é que se calhar as pessoas dizem que o fado é triste.

A Amália levou o fado ao mundo inteiro, e esta nova geração do fado não tem esse peso da idade, porque somos mais novas e ao escolher uma letra escolho a pensar na minha geração, porque foi aquilo que eu vivi e o fado é verdadeiro. Mas como já somos muitas a cantar o fado, Ana Moura, Carminho, Gisela João..., nós sentimos-nos patriotas, nós somos mesmo embaixadoras do país, é muito giro.

Entrevista | Arrendar A Linha Com Paixão | REGIÕES

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