Date a Home Magazine | Jan / Fev / Mar 2015 | Page 119

Entrevista | Arrendar/Comprar Algarve Com Paixão | REGIÕES |

soas de muito diversas idades. E veja-se a programação que fizemos para o Teatro Lethes em 2015: com espetáculos, serviço educativo, con-ferências...

Na sua opinião, o Algarve é um bom público, ou seja, uma região consumidora de cultura?

Não o é o Algarve, como não o é o país. Se pensarmos que, de acordo com o Euro barómetro de outubro de 2013, realizado em 27 país da UE, Portugal ocupa a 27ª e última posi-ção na fruição de teatro, música, dança, ópera e leitura – 5 instru-mentos de civilização! - Perce-beremos em que estado nos encon-tramos. Há uma contradição entre o património que temos e a fruição que dele. Na rede de Bibliotecas Públicas, por exemplo, ocupamos a 24ª posição no Euro barómetro - e o Algarve tem a melhor do país – contudo, lemos muito pouco. Há um imenso caminho a ser feito se real-mente queremos emergir deste lu-gar trágico em que nos encontramos. É comum atacar-se exclusivamente os poderes públicos sobre esta matéria. Não é que este não tenha responsabilidades - sim, tem-nas! Mas as pessoas, no seu conjunto e cada uma delas em particular, não deixa de as ter também. Não há em Portugal uma expressiva compreen-são da importância e do significado da fruição cultural, nem do ponto de vista ontológico nem do ponto de vista sociológico. Na ACTA, procura-mos dar o nosso contributo para fazer reverter este quadro desagra-dável, e esforçamo-nos todos os dias para fazer mais e mais do que fi-zemos no dia anterior.

O que ainda lhe falta fazer pelo teatro nesta região?

Quase tudo! Ter uma companhia estável é absolutamente fundamen-tal, mas os tempos que correm são adversos. Gostaria também que o Algarve tivesse um festival de Teatro que fosse referência nacional e internacional, mas isso exigiria en-tendimentos e recursos que, com todo o realismo, não vejo que possam ser alcançados proxima-mente. Talvez um dia haja decisores que tenham capacidade e coragem para estimular e criar condições que convidem a que se olhe para este tipo de coisas de outra forma, sem umbilicalidades, com uma visão am-pla do país e da região. Se me é per-mitido, direi que falo deste assunto com alguma propriedade: já em duas ocasiões me foram solicitados, por 2 decisores políticos, projetos em tal sentido que pereceram nas gavetas. Há circunstâncias que nos trans-cendem; nem tudo é como desejaría-mos que fosse. Como disse um certo pensador, “ a idealidade cristaliza em contacto com a realidade”. É a realidade que tem de ser alterada sem, contudo, perdermos de vista a idealidade. Mas o professor Eduardo Lourenço explica este fenómeno melhor do que eu. E com superlativa autoridade – o que não é o meu caso; eu sou apenas um fazedor de teatro, apesar de muito consciente do meu papel e da minha função artística e cultural.