Date a Home Magazine | Jan / Fev 2014 | Page 31

bpm's O Doctor B Explica | CRÓNICA

Já pensou na relação entre a escolha da nossa ca- sa e a felicidade? O tema é paradoxal e por isso muito curioso, já que aprendemos desde a infância de que não devemos procurar a realização pessoal nas coisas materiais. Mas pensando bem, pas-samos a maior parte da nossa vida dentro de casa, no escritório, em restaurantes, no shopping, ou na igreja. A este propósito, o filósofo inglês Alain de Botton acredita que procuramos numa obra de arquitetura algo semelhante ao que procuramos num amigo. Construir uma casa, arrendar um apartamento ou decorar o lar são uma amostra de identidade, na qual as pessoas querem ser recon- hecidas e até idealizar como elas poderiam ser. Neste sentido, a casa deixa de ser apenas um local de abrigo e segurança, tendo antes um papel de refúgio psicológico, que guarda a essência de quem ali vive. Seguindo esta lógica, todas as vezes que uma casa nos encanta, na verdade acabámos de encontrar nela algo que se identifica com os nossos valores; quase como que nos projetamos nas suas paredes como de um espelho da nossa personali- dade se tratasse. Desta forma, será legítimo pensar e acreditar que funcionalidade e beleza devem an- dar de mãos dadas, sendo essencial, para o ser hu- mano, viver e transitar por locais que, além de mo-dernos e confortáveis, sejam agradáveis aos seus olhos e lhe alegrem a alma. Na verdade, o simbolis- mo da casa é um dos mais ricos em significado.

Podemos encontrá-lo presente nas obras de poetas, nas lembranças de uma mulher idosa com hipótese diagnóstica de doença de Alzheimer, nas pinturas de Fernando Diniz, em temas musicais, em sonhos, etc. De qualquer modo, o que se tem é uma imagem que estrutura o ser humano, dado que se encontra no centro do mundo: a casa é “um verdadadeiro cosmos”.

Por outro lado, a sensação de conforto e felicidade no momento da decisão de habitar determinada casa, em detrimento de outra já vista, vincula-se aos instintos primários que nos leva(ra)m à luta pela sobrevivência. Como assim? Na próxima edição da bpm’s o Doctor B explica..

Vive aberta a porta da casa / Ninguém entra para furtar.

Por que se fecharia a casa? / Quem se lembra de furtar?

Pois se há vida na casa, a porta / Há-de estar, como a vida, aberta.

Só se fecha mesmo a porta / Para quedar, ao sonho, aberta.

Carlos Drummond de Andrade

A FORÇA DO INCONSCIENTE

NA ESCOLHA DA NOSSA CASA