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Cultura na UFT

Cinema nacional não é só putaria

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A contribuição das pornochanchadas para a história e o cinema nacionais

Por Bárbara Aguiar

É bastante comum a associação do cinema brasileiro com pornografia e muito se ouve a frase “cinema nacional é só putaria”, mas pouco se sabe sobre a origem desse rótulo. Erotismo, malícia e comédia eram características da pornochanchada, uma das fases da indústria cinematográfica nacional.

O termo pornochanchada, junção das palavras “pornô” e “chanchada”, foi utilizado para classificar o gênero tipicamente brasileiro que misturava comédia e erotismo e que foi o carro-chefe do cinema nacional na década de 70. Nascido em meio à realidade da ditadura militar (1964-1985), esse gênero foi o mais visto pelos brasileiros naquela época e, ainda assim, costuma ser desassociado do contexto político em que se desenvolveu.

Uma vez que esse gênero chega ao conhecimento do público, ele é quase sempre associado ao entretenimento e é muito criticado. Algumas pessoas ainda acreditam que esse tipo de filme foi um grande problema na história do cinema e causou danos ao cinema brasileiro.

A pornochanchada não é encarada como uma fonte histórica, como as demais artes são. Não se olha para esse cinema, que foi o mais visto e produzido durante um período tão importante da história do nosso país, a fim de extrair os retratos que ele fez da sociedade da época.

Apesar de criticada e banalizada, a pornochanchada, por uma convergência de fatores econômicos e culturais, desenvolveu uma nova tendência no campo cinematográfico no que se diz respeito ao questionamentos dos costumes e à exploração do erotismo.

As produções desse cinema apresentam questões valiosas sobre o período histórico em que se desenvolveram. A pornochanchada, assim como o regime militar, é carregada de uma modernização antiquada. Ao mesmo tempo em os filmes tratam de capitalismo avançado, indústria cultural e relação das mulheres com o sexo, eles mantém o conservadorismo, reforçando as tradições, a ordem e a família.

A importância dessa fase do cinema nacional está não somente no resgate das questões históricas, mas também na influência que esses produtos tiveram, têm e ainda podem ter nas produções cinematográficas posteriores.

Vera Fischer protagonizou o filme A Super Fêmea (1973), pornochanchada dirigida e escrita por Anibal Massaini Neto, e com roteiro de Lauro César Muniz, Alexandre Pires e Adriano Stuart. (Imagem: Anibal Massaini)

Cartaz do filme Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), pornochanchada baseada no livro de Jorge Amado, dirigida por Bruno Barreto, protagonizada por Sônia Braga, José Wilker e Mauro Mendonça, e que foi por 34 anos recordista de público no cinema nacional. (Imagem: Bruno Barreto)