Vinicius Jr. e os embates do nosso tempo: o racismo e o esporte
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Antes de completar 24 anos, Vinicius Junior, do Real Madrid e da seleção brasileira, é hoje uma das principais vozes antirracistas que conhecemos. Alvo de seguidas agressões simbólicas por parte principalmente de torcedores adversários, o jogador profissional vem marcando gols não apenas no gramado, mas fora dele, com diversas ações que respondem, de forma contundente, a seus agressores. Igualmente, Vini Jr. vem desestabilizando o ensurdecedor silêncio que grande parte do establishment do futebol exercita frente a práticas racistas na Europa, mas também em muitos outros estádios pelo mundo afora.
O número temático que faz a Contemporânea, a nossa quase revista, voltar a ser publicada, se compõe de textos que se dedicam ao racismo no esporte, ou, dito de outra maneira, das relações entre o primeiro e o segundo. Colaboradoras e colaboradores, com exceção de um, são vinculados a universidades federais do Brasil. O primeiro deles, Neilton de Sousa Ferreira Júnior, é de Viçosa, Minas Gerais. Ele abre os trabalhos de maneira instigante, ao reconstruir uma história do esporte olímpico para dizer de seu intrínseco caráter racista. O trabalho seguinte é resultado de uma parceria entre Beatriz de França Alves e Cristiano Mazzaroba, de Sergipe, e Daniel Machado da Conceição, de Santa Catarina. O trio faz um breve e preciso inventário da presença do racismo no esporte – via, por exemplo, estereótipos corporais direcionados a pessoas negras –, perguntando sobre as possibilidades de sua superação.
A terceira contribuição faz um pequeno giro para encontrar a interseccionalidade no futebol feminino em suas práticas pós cancelamento da proibição do jogo para as mulheres brasileiras. A contundência do texto é obra de Caroline Soares de Almeida, que retoma questões que vêm dos anos 1980 para pensar sobre algumas das representações sobre mulheres futebolistas, mostrando como raça, classe social, gênero e sexualidade, determinam as formas de a imprensa esportiva, dominada por homens, tratar do jogo delas.