ter criatividade. Meu pai, por exemplo, fez “Abrigo Nuclear”, onde você vai poder ver minha mãe grávida de mim.
Além de tudo, o cinema é uma indústria, se um diretor recebe 500 mil para fazer o filme, ele enterra esse dinheiro em tudo que envolve a construção do longa, e todos os técnicos contratados a maioria é do estado, no final de tudo, o dinheiro retorna para estado, já que ele financia os filmes. É estranho alguém achar que o dinheiro fica com a gente, pois não fica. Apenas o cinema americano que é financiado por eles mesmos e não pelo governo, mas também seus trabalhos passam no mundo todo. Mas aqui, na França e na Alemanha tem que ter financiamento, se não fizer a cultura será apagada.
Qual o conselho que você dá para essas pessoas que tem medo de fazer um filme na Bahia?
Petrus: Vou contar uma história sobre o produtor, diretor e roteirista João Gabriel. Há 10 anos atrás ele fez um filme, “Quando nada Acontece”, onde o seu pai atuava, o filme não é bom, porém no final do longa havia a frase “Esse filme foi feito com 2 mil reais”, ou seja ele teve a vontade de fazer. Mas atualmente João fez um filme chamado “Travessia”, que teve outdoor por toda a cidade, foi para o cinema e talvez se ele não tivesse tido a coragem e o impulso de fazer aquele filme ruim há 10 anos atrás, ele não saberia a dificuldade de fazer um filme e você só sabe quando faz um. E talvez se ele não tivesse tentado, provavelmente ele não produziria mais nada.
As pessoas têm acesso a equipamento, indo na DIMAS por exemplo você consegue os aparelhos para a produção, e quem sabe ao fazer o filme não ganha Oscar? Quando eu era mais novo, eu e meu amigo Claudio Facto, fazíamos três filmes por ano e eram daqueles trash, porém era isso que alimentava nosso sonho, a gente se inspirava nos filmes que mais gostávamos como, O Iluminado, por exemplo. O impulso motivava a gente, e outra coisa: éramos jovens e os jovens não devem ter medo de errar, quem tem que ter medo sou eu, que estou mais velho.
Quais serão seus próximos projetos?
Petrus: Eu vivo com essa função de preservar a memória do meu pai, ele era um artista, ele produzia e depois partia para o próximo, deixando de lado o que havia feito. Roberto Pires, tem oito filmes e apenas 4 foram restaurados, então ainda falta, além disso um desses está perdido.
Contudo o meu próximo projeto é o filme “A construção da morte”, juntamente com o cineasta, Orlando Senna, que havia me contado uma história que tinha feito e então nos juntamos e escrevemos um roteiro. Estamos em busca de patrocinadores, sendo que no Fundo Setorial do Audiovisual, já foi aprovado o roteiro, se tudo ocorrer bem, o longa será lançado no final de 2020. E um dos atores principais será o, João Miguel e eu quero que quando as pessoas forem ao cinema, elas falem “Eu quero ver esse filme com o ator João Miguel”, porque esse longa talvez seja meu grande desafio.
Qual a importância do cinema na sua vida? Petrus:Valter da Silveira disse “O cinema é a melhor maneira de eternizar a expressão de um povo em determinado momento”. Se você assistir ao filme do meu pai “A grande feira” a Bahia de 1960 está lá, pois o filme não foi maquiado, ele foi rodado na feira de São Joaquim, as filmagens foram feitas nas ruas de Salvador, por isso ele é considerado o grande retrato da cidade física e em movimento e mesmo que tenham fotos nos jornais, o cinema é a arte viva de uma época.
Nos anos 80, o cineasta baiano, Edgar Navarro, fez um filme chamado SuperOutro. Que mostra o impulso do jovem e tem toda essa expressão jovial do hippie, punk baiano daquela década e está cravado no filme dele. A história narra um cara que fica maluco e se denomina “Super Homem” que na verdade era o “SuperOutro” e se joga do Elevador Lacerda e essa é a cena final, ele voando, uma parte bem mal feita, entretanto é essa a expressão punk, hippie, e undergroud baiana. E onde mais você encontraria isso se não for no cinema?
Pode encontrar uma foto, contudo a importância do cinema é isso: você expressar uma determinada cultura em movimento. Outro exemplo é o filme do meu pai, “Redenção”, que mostra a sociedade baiana andando de paletó e com outra maneira de falar. E quando o espectador termina de ver, ele irá poder observar como as coisas mudam.
O cinema está fadado
ao fracasso
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