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PERSPECTIVA PSICOLÓGICA Todo comportamento tem uma emoção como base e, no caso da violência, essa é a raiva. Na relação do casal ou entre pais e filhos ou com os avós, em função de conflitos, a existência desse sentimento é normal, afirma o psicólogo Rodrigo Tavares Mendonça, especialista em terapia familiar e de casal. “A questão é como lidar com essa emoção”, explica o terapeuta. “Às vezes, a pessoa guarda a raiva por muito tempo, em função, por exemplo, de frustrações no casamento e, em certos momentos, isso vem à tona.” Por isso, para Rodrigo Mendonça, o casal precisa, desde cedo, aprender a dialogar sobre as expectativas que ambos possuem um em relação ao outro. Da mesma forma, é preciso convencer- se de que não há um casamento perfeito e que ninguém consegue ter todas as suas expectativas certas correntes religiosas também contribui para esse quadro. Dadas as suas profundas raízes históricas, esse é um cenário cultural que custa a ser transformado, reconhece ela. “Basta pensar que o próprio Código Civil brasileiro admitia até 2002 o pátrio poder (do homem) sobre crianças e mulheres, tendo sido substituído somente a partir de então pelo poder familiar.” A especialista em violência doméstica diz que todos precisam estar atentos aos sinais dessa violência cultural contra mulher, antes que essa assuma proporções descontroladas. O primeiro deles é quando o homem começa a minar a autoestima da companheira a ponto de comprometer a sua própria personalidade, o que costuma ser seguido da limitação do convívio social dela. “Esse é um processo sutil, construído aos poucos” e que tende a se transformar em uma ou mais formas de violência, conforme prevê a Lei Maria da Penha: moral, psicológica, patrimonial, sexual e física. Liliana Araújo chama a atenção para o fato de que embora essa lei – uma das mais populares no Brasil – signifique uma conquista no combate à violência doméstica, há ainda muito o que se avançar nessa área. Mais informação, educação nas escolas, programas governamentais e um maior envolvimento da sociedade estão entre as ações que, segundo a juíza, cabem ser realizadas nesse sentido. atendidas, mas essas precisam ser ajustadas na vida em família, afirma o psicólogo. Isso pode implicar, inclusive, a revisão de valores e crenças pessoais, o que não é tarefa fácil. Agrega-se a esse quadro o problema – bastante comum entre os homens – de muitas pessoas não conseguirem nem sequer compreender as próprias expectativas e expressá-las de forma racional e equilibrada. “Quando você não se conhece, você é dominado por suas emoções.” E se não há diálogo que permita externar, de forma realista, o que cada um sente e espera do outro, bem como as frustrações que surgiram nessa relação, cria-se um terreno fértil para a decepção e a raiva acumuladas e, a partir disso, para o conflito, agravado nesse contexto de confinamento por sensações como a ansiedade, o estresse e o medo. Também a ociosidade e o uso excessivo das tecnologias – que afastam as pessoas umas das outras – contribuem para dificultar esse diálogo. Rodrigo Mendonça salienta ainda que outro elemento complicador bastante comum na relação entre os parceiros, como também entre pais e filhos, é a dificuldade de interpretar o que realmente o outro pensa e deseja. Por outro lado, em favor de uma relação construtiva, uma das orientações apontadas pelo psicólogo para o casal especificamente é se esforçar para realizar gestos concretos de amor ao outro e resgatar aquele olhar positivo, que foi, inclusive, o que levou o indivíduo a apaixonar-se pelo parceiro ou pela parceira. O especialista concorda com o fato de que posturas como essa, assim como o diálogo, a interpretação e adequação de expectativas, não são suficientes em casos de violência extrema, cuja solução exige atitudes igualmente extremas como aquelas apontadas pela juíza Liliana Araújo. Mas tais posturas são fundamentais na vida de todo casal e família, na medida que podem estabelecer as bases para uma relação realmente sadia e harmoniosa no âmbito familiar. (Leia mais a respeito na seção Psicologia, página 41) Esta reportagem é uma sugestão da Comunidade do Movimento dos Focolares na cidade do Rio de Janeiro. Envie sua sugestão de pauta à Cidade Nova pelos perfis da revista no Instagram ou Facebook ou pelo WhatsApp Maio 2020 | Cidade Nova | 31