neuropsiquiatra austríaco Viktor Frankl),
Almada é também autor do livro O cansaço dos
bons: a logoterapia como alternativa ao desgaste
profissional, publicado pela Editora Cidade Nova
(veja box).
Ele explica que o histórico de quem
desenvolve Burnout tem início com um grande
entusiasmo pela atividade laboral exercida, o
qual, com o tempo, é tomado por um cansaço
e pela desmotivação. “É justamente o contato
com as pessoas o fator de cansaço, razão pela
qual os profissionais com esse problema tendem
a desejar manter-se distante dos outros”, afirma
Almada. Além de desenvolver problemas
de natureza física (como dores musculares
e de cabeça), os indivíduos acometidos pela
síndrome podem até chegar a um estado de
depressão. Somado a isso, esses profissionais
criam dificuldades para a organização ou
empresa para a qual trabalham, na medida em
que suas ausências são contínuas.
Em razão desse quadro, há muitas
instituições que têm buscado rever sua
cultura organizacional, já que elas – quando
sobrecarregam o funcionário com pressão
e cobranças – contribuem para os casos de
Burnout. Roberto Almada relaciona também
esse distúrbio a certos valores culturais da
sociedade atual, como o consumismo e a
competição. “As pessoas são associadas a coisas
que se pode usar e jogar”, afirma o médico. Em
muitos casos, ainda há empresas que, ao invés
de cuidarem ou protegerem seus empregados,
simplesmente
transferem
aqueles
com
problemas para outros setores ou os mantêm
afastados do trabalho, o que não ajuda na sua
recuperação, conclui o médico. Por outro lado,
a difusão de informações sobre essa síndrome
ajuda na sua prevenção na medida em que o
paciente deixa de ser visto com preconceito.
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
A jovem Maria (nome fictício) é outro
exemplo de quem adquiriu Burnout. Ela diz
que se sentiu surpreendida quando, num
dia normal de trabalho, após o almoço, teve,
“do nada”, uma crise de ansiedade. “Achei
que estava tendo um ataque cardíaco”, conta.
Depois de vivenciar outras vezes essa mesma
situação, decidiu buscar ajuda especializada.
Dica de leitura
Em O cansaço dos bons: a logoterapia como
alternativa ao desgaste profissional, além de
refletir a partir de experiências concretas
pessoais e de pacientes que acompanhou,
Roberto Almada propõe passos para que a
pessoa encontre uma vida equilibrada, emo-
cionalmente saudável, tendo como base fun-
damentos da Logoterapia. Uma ferramenta
interessante presente no livro é um questio-
nário de avaliação (o Maslach Burnout Inven-
tory) que permite ao leitor analisar se está em
risco de esgotamento profissional.
Na oportunidade, o psiquiatra lhe disse que ela
precisava aprender a extravasar, já que aquelas
crises eram sinais que o seu corpo estava dando
de que algo estava errado com ela. Funcionária
de uma grande companhia, esposa e mãe de
duas crianças pequenas, ela vivia para os seus
compromissos. “Achava que dava conta de
tudo e deixei de cuidar de mim mesma”, revela.
Maria afirma que não podia imaginar que
esse tipo de situação pudesse lhe acontecer.
Aliás, antes, ao saber de casos semelhantes
de colegas, não deu muito crédito. De fato,
as pessoas tendem a subestimar problemas
de ordem emocional ou psicológica, avalia
a jovem. Dada a situação limite em que se
encontrava, Maria teve que se submeter a um
tratamento medicamentoso e iniciar terapia.
Mas o seu médico foi claro: ela precisava mudar
de vida, e uma das principais tarefas nesse
sentido era reservar momentos para cuidar de
si, para o lazer.
Com efeito, segundo o médico Roberto
Almada, uma vida equilibrada, que abre
espaço para práticas esportivas, para o lazer
ou outras atividades prazerosas são exigências
fundamentais para evitar problemas como
a Síndrome de Burnout. Ele diz que é preciso
também não se deixar levar por pensamentos
equivocados, como achar que para que as coisas
andem bem no trabalho, em casa ou em outro
ambiente, tudo depende apenas da pessoa.
“Aprendi, a duras penas, que é preciso saber me
gerenciar, que tenho que conseguir dizer ‘não’
quando necessário”, testemunha Marta.
Esta reportagem
foi uma sugestão
do leitora Fátima
Marques. Envie
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Março 2020 | Cidade Nova |
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