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a previsão é de que em 2050, haverá um novo caso a cada segundo. Estima-se que no mun- do inteiro existam hoje 47 milhões de pes­ soas sofrendo com a demência e esse número pode chegar a 75 milhões em 2030 e a 132 mi- lhões em 2050. ALZHEIMER NO BRASIL No Brasil, não há dados consolidados. “O gover- no precisa fazer uma vasta pesquisa sobre a in- cidência do Alzheimer no Brasil, sobre como essas pessoas são atendidas, sobre como seus cuidadores são formados”, diz com certa indig- nação Lilian Alicke, ex-presidente da Associa- ção Brasileira de Alzheimer (ABRAz) e autora de livros sobre o assunto, entre eles Doença de Alzheimer. Vivências e cuidados. A estimativa da Associação é de que o Brasil tenha hoje 1,2 mi- lhão de casos e cerca de 100 mil novos por ano. Alicke esteve à frente de uma conquista jun- to ao governo: a disponibilização de medica- mentos para o Alzheimer no Sistema Único de Saúde (SUS). Este ano, o SUS também incluiu a opção de um medicamento via transdérmica (adesivo colado na pele), antes disponibilizado apenas para via oral. Essa nova opção reduz al- guns efeitos colaterais nos pacientes. Mas quem convive com o Alzheimer sabe bem que o tratamento não depende apenas de medicamentos. Quando a doença foi diagnos- ticada na mãe da empresária Ana Fortes (fale- cida poucos dias antes do fechamento dessa edição), a família providenciou uma cuidadora­ para fazer companhia a ela, mesmo sendo ain- da bem independente: pintava, jogava e lia bastante. Depois, foi preciso colocar uma cui- dadora também à noite. Atividades corriquei- ras como o banho e a escolha das roupas co- meçavam a ficar mais penosas. O banheiro foi adaptado com barras e um banco. Até que, em 2016, após uma internação decorrente de he- morragia intestinal, a doença se agravou ainda mais. A mãe de Ana parou até mesmo de andar. “Para mim foi um momento decisivo, pois sabia que não ia conseguir mais dar conta dela fisicamente”, relembra Ana. Por indicação mé- dica, a paciente foi internada em uma clínica com terapia ocupacional, fisioterapia, fonoau- diologia, equipe médica e enfermeiros à dispo- sição. Ana a visitava de três a quatro vezes por semana. Além dela, os netos, bisnetos e outros parentes se faziam presentes. “Fiz vários álbuns e cartazes de fotos an- tigas e mais novas e coloquei no quarto. Ela sempre gostava de ver e falava alguns nomes. Hoje ela se encontra em um estágio chamado de terminal. Ela não nos reconhece mais, não responde mais nada, mas continuamos a ir vê- -la sempre e a falar com ela”, conta Ana. “No último período, antes do seu falecimento, ela não reconhecia mais, não respondia mais nada, mas continuávamos a ir vê-la sempre e falar com ela” ONDE O SUS NÃO CHEGA A condição de oferecer todos esses cuidados ao paciente é o que diferencia os tratamentos rea- lizados na rede pública daqueles da rede priva- da no Brasil, ainda que os medicamentos sejam disponibilizados gratuitamente. “Pela questão medicamentosa, tanto o pa- ciente do SUS como da rede privada tem as mes- mas oportunidades. Mas o tratamento envolve mais do que medicação. Envolve alimentação adequada, higiene, um cuidador disponível para esse paciente. Envolve também estímulos, pois quanto mais ele [o paciente] é estimulado e consegue permanecer independente, realizar atividades básicas, melhor. Então, acho que o paciente do SUS fica um pouco prejudicado. Há um prejuízo mais no sentido multidiscipli- nar, que a doença exige”, explica Caroline Pu- pim, médica geriatra da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. CUIDADOS COM QUEM CUIDA A atenção com o cuidador é uma demanda latente, seja qual for a situação financeira de uma família. “Cuidar de um paciente com Al- zheimer é uma demanda muito grande. Tem pessoas que largam toda uma vida para cuidar de um paciente que vai piorando ao longo dos anos. Então, tão importante quanto cuidar do Outubro 2018 | Cidade Nova | c 13