Cidade Nova 5b61bc0ece249253094290pdf | Page 2

ram criar um programa de formação política para a juventude da região. Mesmo sem qual­ quer recurso e com pouco apoio, o grupo de jovens montou um curso em 11 etapas, com a duração prevista para um ano e meio. Entre os organizadores, estava a professora de biologia Maria Milena Ferreira de Lima. Ela conta que a aventura começou ao planejar e realizar o curso. A primeira turma contou com 50 jovens, com idades entre 15 e 28 anos. Des­ ses, apenas dois tinham curso superior. De­ pois, ao longo dos anos seguintes, duas outras turmas foram criadas. “Muitos jovens que pas­ saram pela formação política e tinham parado de estudar se sentiram provocados a voltar à “O Coletivo da Juventude Campo Cidade demonstra que mobilização e organização dos jovens, sem qualquer interferência político-partidária, é capaz de mudar a realidade social” escola; passaram a fazer cursos técnicos ou in­ gressaram na universidade”, conta Milena. É o caso de Aniele Resende Bizarria. Hoje, ela tem 24 anos e cursa engenharia florestal. Na época do primeiro curso, tinha 16 anos e sua família vivia em processo de assentamento. “O curso fez a diferença para mim, porque pude conhecer outros jovens mais experientes na militância social, pude compreender melhor a problemática social e política da minha região e entender que, se quiséssemos uma vida me­ lhor, precisaríamos nos mobilizar”, diz Aniele. O grupo partiu de uma constatação clara: era preciso se formar, conhecer a realidade para assumir o protagonismo social naquela região. “Havia um sentimento de querer trans­ formar a sociedade e isso foi amadurecendo a cada etapa do curso”, conta Damião Rodrigues Souza, jovem do grupo. Já no primeiro curso, os jovens concluíram que a experiência ini­ ciada ali deveria estar fundamentada em um tripé: formação, organização e luta. Formação e organização já estavam acontecendo naquele primeiro momento; faltava decidir qual a pri­ meira luta a ser enfrentada por aqueles jovens. PRIMEIRA CONQUISTA Damião Souza conta que, diante do contexto em que se encontravam, os jovens resolveram retomar uma antiga causa, que fora abandona­ da pelo Sindicato dos Trabalhadores da Edu­ cação de Sergipe: a instalação de um campus da Universidade Federal de Sergipe (UFS) na região. A partir da mobilização de estudantes e autoridades de diferentes cidades do Alto Ser­ tão Sergipano, em fevereiro de 2010, o coletivo levou 400 pessoas à UFS em busca de uma au­ diência pública com o reitor. Os jovens ocu­ param o campus (o que incluiu a reitoria) e a audiência aconteceu. Mas a mobilização não parou aí. Uma mar­ cha em favor dessa causa reuniu, em agosto de 2011, 12 mil pessoas e percorreu um trajeto de seis quilômetros na rodovia SE-206, entre o po­ voado de Queimada Grande e Poço Redondo. Em seguida, em março de 2013, o coletivo reu­ niu 650 jovens para um acampamento com o propósito de discutir educação de qualidade, com a participação de diferentes especialistas. Esse acampamento resultou numa carta em que os jovens insistiram na reivindicação pelo cam- pus universitário. Encaminhada ao governador de Sergipe, Marcelo Déba (PT), a carta foi repas­ sada ao Ministério da Educação. Finalmente, em março de 2014, foi anunciada oficialmente a instalação do campus da UFS, na cidade de Nos­ sa Senhora da Glória, no Alto Sertão Sergipano. A aula inaugural do novo campus da UFS acon­ teceu em 29 de setembro de 2015. Mas não bastava ter um campus na região. Era preciso que ele atendesse às demandas cul­ turais da população do seu entorno. Por isso, desde o processo de implantação dessa unida­ de da UFS, os jovens se mobilizaram para que ali fosse empregada uma metodologia de ensi­ no que valorizasse a cultura local. “A cobrança feita ao reitor é que o método de ensino não fosse voltado apenas ao agronegócio, mas tam­ bém a práticas de convivência com o semiári­ do e que atendesse os pequenos agricultores da região”, explica Damião Sousa. Ele diz que um Agosto 2018 | Cidade Nova | 13 c